Quase uma semana havia
se passado e ainda não conseguia acreditar no que ele tinha dito – estava
gostando um pouco mais da cidade só pela presença dele. Na verdade não
acreditava nessa historia de bruxas, no entanto, uma coisa muito estranha que
aconteceu comigo esta manha me fez pensar se realmente bruxas não existiam.
Levantei-me e segui para
o banheiro, joguei água sobre os olhos e quando os abri novamente tudo estava
flutuando. Tentei não parecer estar em pânico, mas estava. Calmamente busquei
cada coisa com os olhos e então por instinto as ordenei em seus lugares sem
tocá-las. Isso tinha acontecido novamente e não estava acreditando que a casa
toda tinha algo estranho.
Vesti-me direito e
peguei um caderno seguindo ate o colégio, esperava que não notassem nossa
entrada sem permissão, já que tínhamos esquecido de trancar a porta. Bom, ao
menos não saberiam que tinham sido nós.
Every encontrou-me no
caminho, quase nunca sabia de onde ele surgia. Ele parecia calmo, como se o que
tivéssemos feito há um tempo nunca tivesse acontecido.
-Bom dia!
-Bom dia! Já conseguiu
saber quem pegou o livro?
-Eu já disse a você,
foram às bruxas.
-Every você não quer que
eu acredite nisso não é?
-É a verdade Eloá, e um
dia você vai entender.
-Do que esta falando?
-Estou falando que
pesquisei ontem e na sua família havia bruxos, seus antepassados.
-Esta pesquisando sobre
minha família sem minha permissão?
-Desculpe, não achei que
ficaria irritada com isso.
-Claro que ficaria, se
eu falasse que na sua família tem bruxos...
Ele ficou triste de
repente.
-Impossível! – ele
apressou o passo indo a minha frente.
Tinha pisado na bola,
não deveria falar da família dele ainda mais se não a conhecia, mas ele pediu
por isso. Mas aquele rostinho abandonado de alguém que precisava muito da
presença de um outro alguém. Mas por que logo eu? Reclamei comigo mesmo.
Corri para alcançá-lo.
-Me desculpe, não quis
tocar no assunto.
-Eu sei! Você não tem
culpa, é que minha família morreu faz um tempo, eu tive que assistir a morte de
cada um deles.
-Nossa! Seu jeito de
falar lembra-me a minha avó.
-Muito animador Eloá.
-Desculpe-me novamente –
disse rindo – É que ela tem um jeito... Antigo de falar.
-Geralmente as pessoas
falam assim quando perderam algo muito valioso, no caso da sua avó pode ser a
falta que a família dela faz.
-Como...
-Todos da cidade sabem
que ela é bastante sozinha.
Queria mudar de assunto,
principalmente para não ser culpada.
-Sobre aquele dia, eu
queria muito contar algo para alguém e como ainda não coloquei uma carga no meu
celular não posso falar com minha melhor amiga, então pode me ouvir sem entrar
em pânico?
-Claro!
Pensei direito se era isso que eu queria, quer
dizer fazia exatamente poucos dias e alguns minutos que o conhecia, não sabia
se era confiável, no entanto quando olhava em seus olhos – olhos tão singelos e
puros – sabia que poderia fazer isso.
-Vem acontecendo coisas
estranhas comigo.
-Como assim? – era a vez
de ele fazer este tipo de pergunta.
-Tipo coisas flutuando quando
leio palavras, e às vezes não... – disparei.
-Vá com calma, não estou
conseguindo te entender.
Tínhamos chegado ao
portão do colégio e então seguimos ao campus e nos sentamos. Então comecei a
explicar a ele as situações que tinham acontecido, parecia que as palavras
saiam espontaneamente da minha boca, não estava gostando muito disso, mas
precisava desabafar com alguém.
-Não sei nem o que
dizer.
-Diga algo, que a casa é
assombrada...
-Ah! Você acredita em
assombração, mas não em bruxas?
-Quase isso! Mas diga-me
o que é tudo isso.
-Eu tenho uma teoria,
mas duvido que vá gostar.
-Envolve bruxas não é? –
perguntei desanimada.
Ele assentiu.
-Depois do colégio me
encontre na floresta – este pediu.
-E por que não vamos
agora? – não que estivesse animada com a idéia.
-Tenho... Coisas a
resolver.
Isso tinha soado mais
estranho do que as frases estranhas dele.
Caminhei ate a
biblioteca e tentei procurar algum livro que me interessasse, qualquer um que
me distraísse. Não demorou muito a uma garota de longos cabelos loiros abri as
portas da biblioteca em tamanho barulho e adentrar a sala como se fosse uma
modelo internacional. Não aguentaria mais uma daquelas.
No meu colégio havia
garotas como ela, elas eram mandonas se achavam gostosas e quase sempre queriam
roubar seu namorado ou mesmo o garoto que você estava a fim – mesmo que elas
não gostassem do garoto – estava me vangloriando – não sei por que – por Every
não estar aqui neste presente momento.
Ela ainda caminhava e
estava torcendo para que ela não viesse para este lado. Cruzei os dedos e
parece que funcionou, ela continuou a seguir linha reta, o mais incrível é que
ela estava confusa e olhava para trás – onde ela estava querendo sentar-se –
para entender a situação. Ela continuou andando reto passando por todas as
mesas e indo direto para a janela, isso não estava bom, cruzei os dedos
novamente, a garota fez uma curva rápida e então bateu-se contra a estante de
livros e caiu sentada no chão.
Olhei para a garota e
depois para minhas próprias mãos, eu tinha feito aquilo?
Levantei-me rapidamente
e segui para fora da biblioteca, os outros devem ter estranhado alguma coisa,
mas não disseram nada. Procurei por todo o colégio, mas estava difícil
encontrá-lo. Não sei o que houve com o tempo ensolarado de agora a pouco, mas o
céu começava a ficar cinza e o calor de antes foi substituído por uma fina
chuva que logo tornava-se densa e pesada, mas o dia ainda estava claro.
Apressei o passo ate
estar correndo desesperada pelo colégio esbarrando nas pessoas, quase
matando-me por não saber o que estava acontecendo, e se eu era a causa de tudo
isso, se fosse não estava gostando.
Continuei a procurá-lo
ate encontrá-lo, estava conversando com três garotas – acho que elas estavam o
assediando – entrei no circulo de garotas, puxei sua camisa para que seu corpo
se aproximasse e então o beijei, meu beijo foi correspondido senti sua língua
bem fundo e o sabor incrivelmente doce – de algum tipo de doce que tinha um
gosto bastante duradouro – inundou minha boca.
-Preciso da sua ajuda –
disse separando-me deste.
Ele assentiu ainda
pasmo.
Corremos para fora do
colégio e quase cai com a chuva, mas Every ainda segurava minha mão. Tínhamos
chegado à floresta e a adentramos com calma, por causa da chuva que não parecia
dar trégua.
-Eloá – ele gritou sob
os sons de trovoes – Acalme-se ou ela não vai parar.
-O que...?
Esqueci isso e tentei
fazer o que ele dizia, mas meu coração batia rápido, meu corpo não parava de
fazer movimentos frenéticos, tudo em minha mente trabalhava rapidamente para
tentar por as coisas no lugar e invés disso só fazia atropelar minhas idéias, e
então ficava de mente vazia e mais nervosa.
Fechei os olhos e tentei
imaginar algo calmo e então tudo em mim se acalmou numa incrível rapidez quando
lábios gélidos encostaram-se delicadamente aos meus, um beijo singelo e simples
que fez meu coração parar por uns segundos, meu corpo entrar em choque com a
sensação maravilhosa de seu beijo, minha mente continuava vazia mais isso já
não me importava e finalmente estava calma. E tudo isso causado apenas por um
selinho, e quando me dei conta à chuva tinha parado de cair.
-Obrigado! – disse, e
logo depois senti minhas bochechas queimarem.
-Só queria te acalmar –
ele não parecia envergonhado como eu – Quanto mais nervosa estiver com essa situação
pior ela fica, tem que aceitar tudo numa boa e então quando tiver o controle da
situação você pode pirar.
-Posso te fazer uma
pergunta? – ele assentiu – Como sabe tanto de bruxas?
Ele encarou-me e então
voltou a encarar o chão, achei que não ia responder.
-Minha... Minha mãe era
uma bruxa – não tinha palavras, não sabia o que dizer numa situação como essa –
Mas não estamos aqui para isso certo?
Assenti.
-Mas o que exatamente
vamos fazer aqui?
-Provar para você mesma
que é uma bruxa.
-Não é algo desesperador
é?
-Não! – que pena – Pode
ficar calma, não é nada de tão aterrorizante.
Nós estávamos fazendo o
que eu acho que estávamos fazendo? Quero dizer, fingir que não tínhamos corrido
do colégio de mãos dadas após um maravilhoso beijo e então parados aqui na
floresta conversando sobre bruxas quando sei que aquele beijo foi a coisa mais
incrível da minha vida, já não sei para ele.
-Claro que sim!
-O que disse?
-Nada, estava pensando
comigo mesmo – ele pareceu um pouco nervoso.
E a situação ia ficando
cada vez mais estranha, mas nele eu confiava.
-Vamos começar?
-Acho que não, já tive
bruxarias demais para um dia só.
-Mas quero te provar que
eu estava certo, que você é uma bruxa.
Olhei para o céu agora
limpo e repleto de azul e não do cinza agora a pouco.
-Já provou! – ele
comemorou o sucesso e ri por isso – Mas o que faço agora?
-Não se preocupe com
isso vou te ajudar...
-Obrigado!
-Mas é claro que não vai
ser de graça.
-O que quer?
-Bem simples, você.
Fiquei por um longo
tempo o encarando esperando que aquilo fosse realmente verdade. Isso estava
acontecendo comigo? Logo a azarada do colégio que nunca conseguiu um garoto aos
seus pés?
E ele continuava ali de
frente a mim esperando uma resposta.
-Foi brincadeira – ele
disse calmamente.
Comecei a rir e ele sorriu.
-Serio?
-Não! Eu realmente quero
você – ele já estava próximo, e mal notei quando isto aconteceu e então olhou
nos meus olhos e para minha boca, fechei os olhos e novamente seu beijo
devastador chegou com tudo deixando-me de cabelos brancos e desejando cada vez
mais.
Então ele separou-se de
mim e esperou a resposta. Só não sabia qual palavra dizer naquele momento,
então apenas assenti. Seu rosto tenso aliviou-se e seu sorriso – com aqueles
lábios vermelhos deliciosos – se abriu vagarosamente.
-Acordo feito, então –
disse este de brincadeira.
Voltamos para o colégio
sem falar nada no caminho, queria saber como isso funcionaria, mas não tinha
coragem de perguntar, por tanto voltamos a nossos afazeres e depois iríamos
conversar, ao menos foi isso que ele tinha dito.
Meio-dia estava de volta
em casa, vovó estava sentada no sofá assistindo a um programa de culinária
acariciando o denso pelo de Hole que assim que me viu saltou do sofá vindo ate
mim.
Ele rodou bastante e
saltou em minhas pernas, peguei este no braço e segui ate o sofá.
-Olá vovó!
-Oi querida, como foi o
dia?
-Muito bem! – disse
lembrando do beijo.
-Que cara é essa? Tem
algo a me dizer?
Não sabia muito bem se
eu queria dizer a ela, quer dizer avós não são para essas coisas, ao menos não
para mim.
-Não, na verdade não. O
que anda fazendo?
-Nada demais, limpei a
casa, fiz o almoço, molhei as plantas e sentei-me aqui para assistir.
-Que interessante! –
brinquei.
-O que acha de pegarmos
um cinema mais tarde?
-Parece uma boa, mas que
filme vamos ver?
-Você escolhe querida,
não tenho opção de filme.
-Mesmo? O que acha então
de terror?
-Se acha que vai me
assustar esta muito enganada garota – sorri e já ia subindo, mas ela me avisou
– Coloquei carga no seu celular, aproveite-a enquanto ainda tem.
-Obrigado, você é a
melhor avó do mundo – beijei seu rosto e corri para meu quarto.
Soltei Hole no chão e
ele foi diretamente para a janela, peguei meu celular e dei as costas ao
cachorro, disquei o numero de Joana e liguei.
-Ate que enfim – ela
cantarolou do outro lado da linha.
-Desculpe amiga, sei que
foi muito tempo.
-Muito não, bastante. E
então qual as novidades?
-Acho que eu tenho um
namorado – assustei-me ao ouvir um riso baixo vindo de trás de mim, quase morri
de susto e vergonha quando me virei e vi Every rindo na janela com Hole em seus
braços, ele fez um sinal para que eu prosseguisse, enquanto isso não notei a
festejo que Joana fazia por isso e as perguntas.
-E então? Como ele é?
-É... Lindo, alto, tem
uma franja encantadoramente fofa e parece um anjo só que daqueles malvados –
disse me aproximando deste, ele sorriu e evitou rir. Ele fez um sinal pedindo
para ouvir também, coloquei o celular em viva-voz.
-Eu preciso conhecê-lo.
Eu vou para a casa da sua avó, amiga.
-Esta falando serio? Vem
aqui só por isso?
-Não, claro que não.
Estou indo para ver se arranjo um também.
-E o que houve com o
Cole?
-Ele não serve para mim,
é muito... Criança.
-Ele não faz o que você
manda não é?
-Bom, conversamos
depois. Estarei ai amanha pela tarde, por tanto espero que o quarto esteja
limpo e que seu gato seja realmente gato.
-Certo!
-Tchau!
Ela desligou o telefone
com medo com certeza de que eu voltasse a perguntar sobre Cole.
-Sua amiga é bastante
simpática – Every comentou.
-Ela tenta o quando
pode. O que esta fazendo aqui? E como conseguiu entrar?
-Primeiro, sou o melhor
escalador do colégio. E segundo... – ele ficou serio – O livro... Ele esta na
biblioteca novamente.
-Como...? Eu estive lá
hoje de manha e eu te juro que não estava lá.
-Não precisa jurar, eu
sei que não estava lá. Mas hoje de tarde eu voltei ao colégio acompanhado por
um segurança...
-Espera o que foi fazer
lá?
-Meu celular caiu
quando... Bom você me arrastou para fora do colégio – este sorriu – Tudo bem
voltando ao assunto, quando se acha alguma coisa perdida eles geralmente levam
para a secretaria, mas como esta fica fechada os alunos deixam os pertences
perdidos na biblioteca já que é o único lugar disponível durante o verão. E eu
tenho certeza que nenhum dos alunos esteve com aquele livro.
-E o que vamos fazer?
-Nada, ele não é assim
tão importante, e a única coisa importante que havia no livro foi arrancado.
-Primeiro como teve
tempo de avaliar esse livro por inteiro? Segundo se você diz que a coisa
importante foi arrancada então você deve saber que coisa é essa não é?
-Eu... – ele riu sem
graça – Tive que nocautear o segurança e quando ele acordou disse que um livro
grande o grosso caiu em sua cabeça. E segundo, eu já li aquele livro um milhão
de vezes, sei o que há ali do começo ao fim.
-Então pode me dizer?
-Não é simples assim, a
uma lei aplicada a mim. Eu simplesmente não posso comentar nada sobre as
bruxas.
-O que quer dizer com
isso Every? – perguntei preocupada.
-Me perdoe Eloá, nem
mesmo isso posso te dizer... Ainda. Eu sinto muito mesmo, quando estiver pronto
eu prometo que lhe conto.
Ele atirou-se janela
abaixo e quando olhei para fora em busca deste não o encontrei mais, tudo era
tão esquisito e agora ele tinha seus próprios segredos e eu não tinha notado
isso. Seria perigoso?
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