sábado, 5 de maio de 2012

Um estranho em minha vida

                                                       Capitulo 3 : Meus poderes



Quase uma semana havia se passado e ainda não conseguia acreditar no que ele tinha dito – estava gostando um pouco mais da cidade só pela presença dele. Na verdade não acreditava nessa historia de bruxas, no entanto, uma coisa muito estranha que aconteceu comigo esta manha me fez pensar se realmente bruxas não existiam.
Levantei-me e segui para o banheiro, joguei água sobre os olhos e quando os abri novamente tudo estava flutuando. Tentei não parecer estar em pânico, mas estava. Calmamente busquei cada coisa com os olhos e então por instinto as ordenei em seus lugares sem tocá-las. Isso tinha acontecido novamente e não estava acreditando que a casa toda tinha algo estranho.
Vesti-me direito e peguei um caderno seguindo ate o colégio, esperava que não notassem nossa entrada sem permissão, já que tínhamos esquecido de trancar a porta. Bom, ao menos não saberiam que tinham sido nós.
Every encontrou-me no caminho, quase nunca sabia de onde ele surgia. Ele parecia calmo, como se o que tivéssemos feito há um tempo nunca tivesse acontecido.
-Bom dia!
-Bom dia! Já conseguiu saber quem pegou o livro?
-Eu já disse a você, foram às bruxas.
-Every você não quer que eu acredite nisso não é?
-É a verdade Eloá, e um dia você vai entender.
-Do que esta falando?
-Estou falando que pesquisei ontem e na sua família havia bruxos, seus antepassados.
-Esta pesquisando sobre minha família sem minha permissão?
-Desculpe, não achei que ficaria irritada com isso.
-Claro que ficaria, se eu falasse que na sua família tem bruxos...
Ele ficou triste de repente.
-Impossível! – ele apressou o passo indo a minha frente.
Tinha pisado na bola, não deveria falar da família dele ainda mais se não a conhecia, mas ele pediu por isso. Mas aquele rostinho abandonado de alguém que precisava muito da presença de um outro alguém. Mas por que logo eu? Reclamei comigo mesmo.
Corri para alcançá-lo.
-Me desculpe, não quis tocar no assunto.
-Eu sei! Você não tem culpa, é que minha família morreu faz um tempo, eu tive que assistir a morte de cada um deles.
-Nossa! Seu jeito de falar lembra-me a minha avó.
-Muito animador Eloá.
-Desculpe-me novamente – disse rindo – É que ela tem um jeito... Antigo de falar.
-Geralmente as pessoas falam assim quando perderam algo muito valioso, no caso da sua avó pode ser a falta que a família dela faz.
-Como...
-Todos da cidade sabem que ela é bastante sozinha.
Queria mudar de assunto, principalmente para não ser culpada.
-Sobre aquele dia, eu queria muito contar algo para alguém e como ainda não coloquei uma carga no meu celular não posso falar com minha melhor amiga, então pode me ouvir sem entrar em pânico?
-Claro!
 Pensei direito se era isso que eu queria, quer dizer fazia exatamente poucos dias e alguns minutos que o conhecia, não sabia se era confiável, no entanto quando olhava em seus olhos – olhos tão singelos e puros – sabia que poderia fazer isso.
-Vem acontecendo coisas estranhas comigo.
-Como assim? – era a vez de ele fazer este tipo de pergunta.
-Tipo coisas flutuando quando leio palavras, e às vezes não... – disparei.
-Vá com calma, não estou conseguindo te entender.
Tínhamos chegado ao portão do colégio e então seguimos ao campus e nos sentamos. Então comecei a explicar a ele as situações que tinham acontecido, parecia que as palavras saiam espontaneamente da minha boca, não estava gostando muito disso, mas precisava desabafar com alguém.
-Não sei nem o que dizer.
-Diga algo, que a casa é assombrada...
-Ah! Você acredita em assombração, mas não em bruxas?
-Quase isso! Mas diga-me o que é tudo isso.
-Eu tenho uma teoria, mas duvido que vá gostar.
-Envolve bruxas não é? – perguntei desanimada.
Ele assentiu.
-Depois do colégio me encontre na floresta – este pediu.
-E por que não vamos agora? – não que estivesse animada com a idéia.
-Tenho... Coisas a resolver.
Isso tinha soado mais estranho do que as frases estranhas dele.
Caminhei ate a biblioteca e tentei procurar algum livro que me interessasse, qualquer um que me distraísse. Não demorou muito a uma garota de longos cabelos loiros abri as portas da biblioteca em tamanho barulho e adentrar a sala como se fosse uma modelo internacional. Não aguentaria mais uma daquelas.
No meu colégio havia garotas como ela, elas eram mandonas se achavam gostosas e quase sempre queriam roubar seu namorado ou mesmo o garoto que você estava a fim – mesmo que elas não gostassem do garoto – estava me vangloriando – não sei por que – por Every não estar aqui neste presente momento.
Ela ainda caminhava e estava torcendo para que ela não viesse para este lado. Cruzei os dedos e parece que funcionou, ela continuou a seguir linha reta, o mais incrível é que ela estava confusa e olhava para trás – onde ela estava querendo sentar-se – para entender a situação. Ela continuou andando reto passando por todas as mesas e indo direto para a janela, isso não estava bom, cruzei os dedos novamente, a garota fez uma curva rápida e então bateu-se contra a estante de livros e caiu sentada no chão.
Olhei para a garota e depois para minhas próprias mãos, eu tinha feito aquilo?
Levantei-me rapidamente e segui para fora da biblioteca, os outros devem ter estranhado alguma coisa, mas não disseram nada. Procurei por todo o colégio, mas estava difícil encontrá-lo. Não sei o que houve com o tempo ensolarado de agora a pouco, mas o céu começava a ficar cinza e o calor de antes foi substituído por uma fina chuva que logo tornava-se densa e pesada, mas o dia ainda estava claro.
Apressei o passo ate estar correndo desesperada pelo colégio esbarrando nas pessoas, quase matando-me por não saber o que estava acontecendo, e se eu era a causa de tudo isso, se fosse não estava gostando.
Continuei a procurá-lo ate encontrá-lo, estava conversando com três garotas – acho que elas estavam o assediando – entrei no circulo de garotas, puxei sua camisa para que seu corpo se aproximasse e então o beijei, meu beijo foi correspondido senti sua língua bem fundo e o sabor incrivelmente doce – de algum tipo de doce que tinha um gosto bastante duradouro – inundou minha boca.
-Preciso da sua ajuda – disse separando-me deste.
Ele assentiu ainda pasmo.
Corremos para fora do colégio e quase cai com a chuva, mas Every ainda segurava minha mão. Tínhamos chegado à floresta e a adentramos com calma, por causa da chuva que não parecia dar trégua.
-Eloá – ele gritou sob os sons de trovoes – Acalme-se ou ela não vai parar.
-O que...?
Esqueci isso e tentei fazer o que ele dizia, mas meu coração batia rápido, meu corpo não parava de fazer movimentos frenéticos, tudo em minha mente trabalhava rapidamente para tentar por as coisas no lugar e invés disso só fazia atropelar minhas idéias, e então ficava de mente vazia e mais nervosa.
Fechei os olhos e tentei imaginar algo calmo e então tudo em mim se acalmou numa incrível rapidez quando lábios gélidos encostaram-se delicadamente aos meus, um beijo singelo e simples que fez meu coração parar por uns segundos, meu corpo entrar em choque com a sensação maravilhosa de seu beijo, minha mente continuava vazia mais isso já não me importava e finalmente estava calma. E tudo isso causado apenas por um selinho, e quando me dei conta à chuva tinha parado de cair.
-Obrigado! – disse, e logo depois senti minhas bochechas queimarem.
-Só queria te acalmar – ele não parecia envergonhado como eu – Quanto mais nervosa estiver com essa situação pior ela fica, tem que aceitar tudo numa boa e então quando tiver o controle da situação você pode pirar.
-Posso te fazer uma pergunta? – ele assentiu – Como sabe tanto de bruxas?
Ele encarou-me e então voltou a encarar o chão, achei que não ia responder.
-Minha... Minha mãe era uma bruxa – não tinha palavras, não sabia o que dizer numa situação como essa – Mas não estamos aqui para isso certo?
Assenti.
-Mas o que exatamente vamos fazer aqui?
-Provar para você mesma que é uma bruxa.
-Não é algo desesperador é?
-Não! – que pena – Pode ficar calma, não é nada de tão aterrorizante.
Nós estávamos fazendo o que eu acho que estávamos fazendo? Quero dizer, fingir que não tínhamos corrido do colégio de mãos dadas após um maravilhoso beijo e então parados aqui na floresta conversando sobre bruxas quando sei que aquele beijo foi a coisa mais incrível da minha vida, já não sei para ele.
-Claro que sim!
-O que disse?
-Nada, estava pensando comigo mesmo – ele pareceu um pouco nervoso.
E a situação ia ficando cada vez mais estranha, mas nele eu confiava.
-Vamos começar?
-Acho que não, já tive bruxarias demais para um dia só.
-Mas quero te provar que eu estava certo, que você é uma bruxa.
Olhei para o céu agora limpo e repleto de azul e não do cinza agora a pouco.
-Já provou! – ele comemorou o sucesso e ri por isso – Mas o que faço agora?
-Não se preocupe com isso vou te ajudar...
-Obrigado!
-Mas é claro que não vai ser de graça.
-O que quer?
-Bem simples, você.
Fiquei por um longo tempo o encarando esperando que aquilo fosse realmente verdade. Isso estava acontecendo comigo? Logo a azarada do colégio que nunca conseguiu um garoto aos seus pés?
E ele continuava ali de frente a mim esperando uma resposta.
-Foi brincadeira – ele disse calmamente.
Comecei a rir e ele sorriu.
-Serio?
-Não! Eu realmente quero você – ele já estava próximo, e mal notei quando isto aconteceu e então olhou nos meus olhos e para minha boca, fechei os olhos e novamente seu beijo devastador chegou com tudo deixando-me de cabelos brancos e desejando cada vez mais.
Então ele separou-se de mim e esperou a resposta. Só não sabia qual palavra dizer naquele momento, então apenas assenti. Seu rosto tenso aliviou-se e seu sorriso – com aqueles lábios vermelhos deliciosos – se abriu vagarosamente.
-Acordo feito, então – disse este de brincadeira.
Voltamos para o colégio sem falar nada no caminho, queria saber como isso funcionaria, mas não tinha coragem de perguntar, por tanto voltamos a nossos afazeres e depois iríamos conversar, ao menos foi isso que ele tinha dito.

Meio-dia estava de volta em casa, vovó estava sentada no sofá assistindo a um programa de culinária acariciando o denso pelo de Hole que assim que me viu saltou do sofá vindo ate mim.
Ele rodou bastante e saltou em minhas pernas, peguei este no braço e segui ate o sofá.
-Olá vovó!
-Oi querida, como foi o dia?
-Muito bem! – disse lembrando do beijo.
-Que cara é essa? Tem algo a me dizer?
Não sabia muito bem se eu queria dizer a ela, quer dizer avós não são para essas coisas, ao menos não para mim.
-Não, na verdade não. O que anda fazendo?
-Nada demais, limpei a casa, fiz o almoço, molhei as plantas e sentei-me aqui para assistir.
-Que interessante! – brinquei.
-O que acha de pegarmos um cinema mais tarde?
-Parece uma boa, mas que filme vamos ver?
-Você escolhe querida, não tenho opção de filme.
-Mesmo? O que acha então de terror?
-Se acha que vai me assustar esta muito enganada garota – sorri e já ia subindo, mas ela me avisou – Coloquei carga no seu celular, aproveite-a enquanto ainda tem.
-Obrigado, você é a melhor avó do mundo – beijei seu rosto e corri para meu quarto.
Soltei Hole no chão e ele foi diretamente para a janela, peguei meu celular e dei as costas ao cachorro, disquei o numero de Joana e liguei.
-Ate que enfim – ela cantarolou do outro lado da linha.
-Desculpe amiga, sei que foi muito tempo.
-Muito não, bastante. E então qual as novidades?
-Acho que eu tenho um namorado – assustei-me ao ouvir um riso baixo vindo de trás de mim, quase morri de susto e vergonha quando me virei e vi Every rindo na janela com Hole em seus braços, ele fez um sinal para que eu prosseguisse, enquanto isso não notei a festejo que Joana fazia por isso e as perguntas.
-E então? Como ele é?
-É... Lindo, alto, tem uma franja encantadoramente fofa e parece um anjo só que daqueles malvados – disse me aproximando deste, ele sorriu e evitou rir. Ele fez um sinal pedindo para ouvir também, coloquei o celular em viva-voz.
-Eu preciso conhecê-lo. Eu vou para a casa da sua avó, amiga.
-Esta falando serio? Vem aqui só por isso?
-Não, claro que não. Estou indo para ver se arranjo um também.
-E o que houve com o Cole?
-Ele não serve para mim, é muito... Criança.
-Ele não faz o que você manda não é?
-Bom, conversamos depois. Estarei ai amanha pela tarde, por tanto espero que o quarto esteja limpo e que seu gato seja realmente gato.
-Certo!
-Tchau!
Ela desligou o telefone com medo com certeza de que eu voltasse a perguntar sobre Cole.
-Sua amiga é bastante simpática – Every comentou.
-Ela tenta o quando pode. O que esta fazendo aqui? E como conseguiu entrar?
-Primeiro, sou o melhor escalador do colégio. E segundo... – ele ficou serio – O livro... Ele esta na biblioteca novamente.
-Como...? Eu estive lá hoje de manha e eu te juro que não estava lá.
-Não precisa jurar, eu sei que não estava lá. Mas hoje de tarde eu voltei ao colégio acompanhado por um segurança...
-Espera o que foi fazer lá?
-Meu celular caiu quando... Bom você me arrastou para fora do colégio – este sorriu – Tudo bem voltando ao assunto, quando se acha alguma coisa perdida eles geralmente levam para a secretaria, mas como esta fica fechada os alunos deixam os pertences perdidos na biblioteca já que é o único lugar disponível durante o verão. E eu tenho certeza que nenhum dos alunos esteve com aquele livro.
-E o que vamos fazer?
-Nada, ele não é assim tão importante, e a única coisa importante que havia no livro foi arrancado.
-Primeiro como teve tempo de avaliar esse livro por inteiro? Segundo se você diz que a coisa importante foi arrancada então você deve saber que coisa é essa não é?
-Eu... – ele riu sem graça – Tive que nocautear o segurança e quando ele acordou disse que um livro grande o grosso caiu em sua cabeça. E segundo, eu já li aquele livro um milhão de vezes, sei o que há ali do começo ao fim.
-Então pode me dizer?
-Não é simples assim, a uma lei aplicada a mim. Eu simplesmente não posso comentar nada sobre as bruxas.
-O que quer dizer com isso Every? – perguntei preocupada.
-Me perdoe Eloá, nem mesmo isso posso te dizer... Ainda. Eu sinto muito mesmo, quando estiver pronto eu prometo que lhe conto.
Ele atirou-se janela abaixo e quando olhei para fora em busca deste não o encontrei mais, tudo era tão esquisito e agora ele tinha seus próprios segredos e eu não tinha notado isso. Seria perigoso?

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