Estava me arrumando graciosamente como em qualquer outro dia,
mas hoje não era um dia qualquer, era o primeiro dia de aula em uma cidade
nova. Tinha de começar com o pé direito.
A produção começou com meus tênis excessivamente chamativos em
rosa e meia-calça. Foi difícil me adaptar a saia com brilhinhos, mas a vesti de
qualquer forma.
Minha camiseta preta quase não estava em destaque por causa do
casaco de ombro cor de rosa.
Levemente passei gloss para avermelhar ainda mais meus lábios.
E pendi em meus cachos loiros uma porção de laçinhos. Não podia esquecer de
caprichar no lápis de olho.
-Para que tenta produção? – perguntou-me meu pai da porta do
meu quarto – Devo lembrá-la que só possui quinze anos, moçinha?
-Pai – reclamei – Se quiser ser popular é assim que devo
estar.
-Tudo bem Miss popular, vamos? Não quero me atrasar – ele
pediu.
Assim que passei pela cozinha despedi-me da minha mãe e comi
um bolinho.
Meu pai me daria uma carona ate o colégio, mas não precisava
ser vista com ele ou já começaria com má reputação. Ao longo da estrada ele não
comentou nada, papai sabia que eu não gostava de conversar.
Assim que nos aproximávamos os cinco metros do colégio saltei
do carro.
-Cuide-se – ele pediu.
-Pai, por favor.
Ele sorriu e seguiu em direção ao seu trabalho. Meu pai não
pensou duas vezes em aceitar a proposta de trabalho em Nova York e sair do Tennessee
para mim foi como me atualizar. Por mais que só iríamos ficar talvez um curto
período de tempo de dez meses eu não poderia perder esse tempo sem aproveitar o
que à cidade tinha a me oferecer.
Assim que encontrei o prédio e comecei a vagar pelos
corredores percebi a diferença entre as duas cidades. As pessoas aqui não só
tinham mais estilo como também eram... Interessantes.
-Olá! – fui barrada na entrada por uma garota que parecia a
rainha do rosa. Se os cabelos fossem loiros ela pareceria a Barbie em si.
-Oi! – sorri com animação.
-Sou Catlin – ela sorriu o que era um bom sinal. Estendi a
mão, mas ela não apertou – Não se meta em meu caminho novata, ou se arrependerá
disso. Como se pudesse – ela soltou um risinho e suas escudeiras acompanharam o
ritmo.
Logo depois ela saiu derrubando os livros que estavam na minha
mão. Antes que pudesse me abaixar para pegar os livros um Deus grego já os
havia recolhido.
-Aqui – ele falou, mas ainda observava seu cabelo lindo e
negro que lhe batia nos ombros. A frente do rosto havia uma franja irregular,
mas extremamente sexy. Seus olhos eram azuis e seus cílios grandes o realçavam.
Não vou comentar sobre o pecado que sua boca era.
-O... Obrigada! – recolhi os livros da sua mão e ele saiu.
Fiquei ali o observando sair. Ele era tão lindo e ainda podia
apostar que era o garoto mais bonito do colégio. Mas precisava acordar, ele
nunca me notaria, nem se eu quisesse.
-Se eu fosse você não ficaria de olho nele – uma garota chamou
minha atenção. Fora as botas de soldado e o cabelo arco-íris, ela era
extremamente normal e não me parecia nenhuma ameaça.
-Ah! Eu não...
-Você sim, mas não faça isso, você pode se arrepender...
-Espera, fazer o que?
-Ficar interessadinha por ele – ela avisou. Não entendi o
porquê, ela estava interessada nele? – Seu horário – ela me estendeu uma folha
de papel – Que chato! Você tem os mesmos horários que os meus.
-Ótimo! Assim você pode me dizer como tudo funciona por aqui –
tentei soar bastante animada com isso.
-Vamos logo!
Ela seguiu a frente e eu fui a uma distancia considerável
observando o local ao meu redor. Pude notar que duas salas depois da minha era
onde o lindo garoto estava. Que pena!
Assim que igualei meus passos ao da garota e conseguimos
chegar à sala notei que aquela era a sala mais desprovida da ala, quem sabe do
colégio inteiro.
Havia umas quatro ou cinco garotas vestidas de preto por
completamente. Vários garotos com o ego maior que o cérebro e a turma dos
nerds. Fora isso não havia mais nada.
A garota dos mesmos horários que os meus não pertencia – ainda
bem – a nenhum desses grupos. Mas sabia que ela também não era nem um pouco
descolada. Sentei-me ao seu lado.
-Ainda não sei o seu nome – falei.
-Bel – ela se apresentou – Mas vamos ao que interessa. Quase
ninguém aqui irá falar com você a não ser eu e... Eu.
-Ah! – lembrei-me do gato do corredor, talvez ela soubesse
algo sobre ele – Por que não posso me aproximar dele?
-De novo essa historia? Muitas pessoas já fizeram essa
pergunta – ela respirou fundo antes de continuar – A questão não é poder, é
querer – ela deu de ombros.
-Isso não explica muito...
-Por que ele é louco, tudo bem?
-Louco do tipo...?
-Louco, pirado, lunático. Deixa de amolação agora – ela quase
como implorou.
Ouvi muito bem o que ela havia acabado de falar, mas não
conseguia ver ou entender como um gato daqueles poderia ser louco. Talvez ele
apenas tivesse negado sair com muitas delas e por isso à fama.
-Então a que grupo pertence? – apontei para todo o redor da
sala.
-Eu pertenço ao grupo exclusivamente da Bel, você pode entrar
nele se quiser... Você seria a primeira.
-Que... Animador.
Deixei a conversa de lado assim que o professor adentrou a sala.
Ele aparentava ser simpático, mas foi somente impressão uma vez que ele apenas
sentou-se e ditou:
-Quero uma redação sobre tema livre em francês em minha mesa
daqui a cinco minutos – ele nem mesmo parou para respirar – Duplas, para
facilitar.
Fazer dupla com Bel, a garota esquisita que acabara de
conhecer, era horrível uma vez que ela não sabia absolutamente nada de francês.
Também não sabia que possuíamos neste colégio a matéria “linguagens com um
professor tirano”.
-Algum tema? – perguntei.
-Podíamos fazer sobre macacos e como eles se habituam muito
bem com os seres humanos.
-Não, obrigada!
Depois de ter feito quase toda a redação sozinha e ter
entregado ao professor como ele pedira pudemos descansar enquanto ele as
analisava com cautela.
Não pensei em continuar qualquer tipo de conversa com Bel,
alem do que ela não me parecia do tipo de que aturava mais de duas perguntas
por dia.
Pensei em que tipo de pessoa queria realmente ser aqui. E
decidi que seria eu mesma com um pouco de exagero e acenderia certa chama.
Depois de ter analisado cada redação feita sem demora o
professor Claude passou por cada assento torturando os alunos com palavras
pelos seus erros de ortografia.
Tentei desviar minha atenção da sala, mas não ia a um lugar
mais agradável.
Assim que chegou a nossa vez minhas pernas estavam tremulas
pelo que ele pudesse falar. Quanto a Bel, estava estourando bolas de chiclete
tranquilamente e lixando suas unhas.
-Péssima caligrafia – ele observou – E tenho certeza que
podiam abordar um tema melhor que desejos de gestantes.
Não havia muito que fazer quanto à criatividade de minha recém
colega. Alem do que o francês estava por minha parte ela tinha de fazer ao
menos uma coisa.
O próximo horário que seu seguiu foi mais tranquilo. Ate por
que a professora era muito mais paciente e menos grosseira também.
-Álgebra não é tão difícil quanto parece – a professora disse
enquanto passava a cada um de nós uma lista de atividade.
Já havia dado todos aqueles assuntos, mas ela só deveria estar
repassando para que não os esquecêssemos. Talvez ela os fosse usar novamente
este ano e precisava que os exercitássemos.
Depois de finalmente passarem-se as aulas desnecessárias, nós
fomos para o refeitório. Observei todo o lugar para gravar muito bem todos os
detalhes e procurar por uma pessoa que não consegui encontrar.
Sentei-me ao lado de Bel em uma mesa não muito povoada. Na
verdade apenas, Bel e eu estávamos sentadas nela. Mais uns minutos e um garoto
juntou-se a nós na mesa. Ele possuía um jeito estranho de se vestir, mas não
estava ali para questioná-lo uma vez que eu estivesse mais estranha do que ele.
-Olá, sou Till – o garoto apresentou-se – Melhor amigo de Bel.
-Prazer – mas estava concentrada em procurar o garoto do
corredor.
-Lado direito, mesa escura no canto isolado – Bel disse.
-O que? – quis saber.
-O que garoto que você esta interessada, não se finja de
desentendida – ela reclamou e iniciou uma conversa intima com o garoto.
Procurei por ele de acordo com as coordenadas que ela me dera.
Ele estava lá, lendo um livro e comendo seu almoço. Não vi nenhum obstáculo
daqui ate lá, então me levantei e ia seguir ate lá quando vi Catlin sentando-se
ao seu lado.
-Achei que ninguém falava com ele – comentei com Bel.
-Por favor... – ela parou ao notar que não sabia como me chamava.
-Mia – apresentei-me de verdade.
-Esqueça dele tudo bem? Será melhor não se colocar no caminho
da bobona da Catlin.
-Tudo bem! Esquecido – não queria procurar confusão com aquela
garota, principalmente por que não queria ser considerada a novata que não sabe
seu lugar.
Mas não resisti ao impulso de observar para ao menos saber o
que estavam conversando. Ela sentou-se e mostrou interesse no livro que ele
lia, ele o recolheu de suas mãos com rapidez e depois acho que pediu que ela se
retirasse, pois ela se levantou e sentou-se com os populares.
Havia muitas pessoas ali que olhavam para o garoto no canto
isolado com desconfiança, mas depois voltavam a suas vidas.
No fim de todas as aulas notei que não começara com o pé
direito e que seria assim o resto do ano, mas amanha era um novo dia e podia
mudar essa situação. E poderia voltar a usar meus jeans, já que não conseguira
nem conseguiria ser popular. Não se dependesse de Catlin.
Esperei no estacionamento meu pai vir me buscar, mas
esqueci-me que pedi para que ele me esperasse a cinco metros dali.
Bel ofereceu-se uma carona em nosso carro.
-Moro no mesmo quarteirão que você – ela comentou.
-Que legal! Será uma boa companhia – comentei de volta.
Cheguei em casa e mamãe quis saber como tinha sido as aulas,
mas antes de respondê-la o que se tornaria uma enorme conversa fui tomar um
banho.
-Então algo que te interessou? – ela quis saber.
-Bom! As aulas são tediosas como qualquer outra, mas...
-Mas? – ela me encorajou a continuar.
Olhei para todos os lados em busca de meu pai, mas ele ainda
estava tentando estacionar o carro na garagem. Ele era péssimo manobrista e por
isso sabia que ele iria demorar.
-Tem um garoto que é muito lindo – falei de uma vez.
-Isso! Sabia que tinha a ver com um bonitinho – ela comemorou
– E então ele falou com você?
-Não, quer dizer, é só o primeiro dia. Ninguém fala com os
novatos.
-Claro que fala, mas não vamos apressar nada não é?
-Mãe, é só um garoto.
-Não, é o garoto. Pretendem sair?
-Mamãe, por favor – juro como ficava ainda sim ruborizada
quando conversava com minha mãe sobre isso, ela conseguia de qualquer forma me
envergonhar – Ele só é bonito, mãe nada mais. Eu não o conheço, não falei com
ele, só o vi tudo bem?
-Estou tão orgulhosa de você – ela quase estava chorando.
Minha mãe sempre fora assim e às vezes tinhas duvidas sobre o
psicológico dela. Quer dizer, ela era dez vezes mais exagerada que qualquer
mãe. Se tocasse em assuntos como beijos ela já estaria achando que o assunto
era relações sexuais. Quem sabe se eu fosse falar sobre esse assunto acho que
ela entenderia que eu teria sete filhos, moraria debaixo de uma ponte, seria
fumante e alcoólatra e quem sabe outras mais.
-Estarei no meu quarto – avisei.
Assim que adentrei o quarto tranquei-o por dentro. Não que
precisasse esconder algo de meus pais, mas era meu tempo de privacidade.
Precisava dele para ter um espaço próprio ou meus pais saberiam da minha vida
em cada detalhe.
Abri meu e-mail e meu blog. Gostava de sentar de frente ao PC
e observar se alguém queria me aceitar como seguidor ou ser meu seguidor. O
blog servia de desabafo, postava textos íntimos que poucas pessoas que me
seguiam tinham acesso.
A vida é como uma caixa de surpresas, quando você acha que ela
não pode te surpreender, então é que ela mostra do que é capaz. Foi o que
aconteceu comigo, hoje conheci uma pessoa muito interessante. Não o conheci
exatamente, mas sei que é o garoto mais lindo que já vi em toda a minha vida.
Sabe quando você vê alguém e pensa que essa é a pessoa a qual
você vem procurando faz um tempo? Bom, o garoto que conheci hoje se encaixa
nesses padrões. Ele é gato, não tem namorada e bem... É só isso que eu sei
sobre ele. Não se pode saber tudo não é?
Espero ansiosamente pelo dia de amanha quando voltarei a
vê-lo.
Depois desse breve comentário não me restava fazer mais nada a
não ser dormir, mas não era exatamente o que eu queria.
Ainda estava um pouco atordoada pensando sobre o que Bel havia
dito e tudo o que havia acontecido. Quer dizer não havia chances de um garoto
como ele ser realmente louco, não é? Não, é besteira da cabeça dela.
E Catlin, aquela garota era o tipo de aviso de perigo que eu
queria obedecer. Algo nela me sugeria que o fizesse ou eu poderia de verdade
sofrer graves consequências. E não digo ser expulsa do colégio, mas algo mais
maléfico como ela.
-Pensando no futuro? – meu pai perguntou.
-Não, estou aqui no presente mesmo – respondi.
-Sabe costumava ficar assim também. Pensativo – ele riu como
se fosse alguma piada – Não precisa se preocupar com nada disso agora querida.
Você ainda tem muita coisa pela frente, então viva apenas o hoje tudo bem?
-Tudo bem! – ele já ia saindo quando o chamei – Pai.
-O que?
-Mamãe esta fazendo aquilo de novo.
-Vou conversar com ela sobre isso. Boa noite ou tarde, não
sei.
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