Mas uma noite em que
tomaria banho de balde e no escuro da noite, a floresta estava mais assustadora
e não estava gostando muito. Fiquei apenas de peças intimas e comecei meu
banho, quase pulei quando ouvi um assobio esquisito vindo das arvores, quando
virei-me pude notar alguém.
Quase pulei, agarrei
minha toalha rapidamente e tropecei sobre o cercado de madeira que veio ao
chão, enquanto o garoto observava tudo sem se quer se mexer.
-Que susto! Não esta
vendo que estou tomando banho.
-Estou, na verdade
estou.
-Idiota! Esta é uma
propriedade particular.
-Desculpe-me, não queria
vê-la no banho. Só queria me apresentar, você é nova por aqui não é?
-Sou! – mal dava para
ver seu rosto na escuridão.
-Eu sou Every!
-Eu sou alguém que quer
muito terminar o banho.
-Me perdoe, já pedi
desculpas – sua voz era tão doce e angelical que quase me perdi – Já estou
indo, desculpe-me mesmo.
Ele sumiu dali – não que estivesse o vendo –
como se nunca tivesse estado naquele lugar, as coisas nessa cidade eram
estranhas e eu não estava muito afim de ficar ali e descobrir o que era.
-Só uma coisa – ele me
assustou novamente – Ainda não sei seu nome.
-Eloá! Tchau.
-Tchau!
Eu é quem não queria
mais tomar banho, mas estava tão suja de lama que fui obrigada a erguer a cerca
e continuar meu banho.
Entrei em casa e segui
para meu quarto vestindo minha roupa. Queria conhecer os pontos turísticos
desta cidade – se houvesse algum – então peguei meu computador e pesquisei.
Invés disso apareceu coisas totalmente diferentes, por exemplo, depois da
cidade havia um cemitério de bruxas, e esta era a cidade conhecida por morar
muitas bruxas.
Certo eu acredito neste
tipo de coisa, mas não o suficiente para acreditar que havia bruxas ali, talvez
lá no século dezenove quando bruxas eram aquelas que faziam coisas que não
estivessem na lei e não magia.
Deitei-me e novamente o
peludinho colocou-se ao meu lado, fechamos os olhos juntos e então começamos a
dormir.
Estava a caminho do
prédio, sem Hole – que latiu bastante quando fechei a porta de casa com ele
dentro – e sem materiais nenhum, não achei que fosse necessário, quando topei
com alguém e cai na rua. Ele me ofereceu a mão para que eu levantasse e pude
notar seu perfil de galanteador, tinhas cabelos negros e ondulados caindo em
seu ombro e uma perfeita e densa franja sobre seus olhos – ou pelo menos um
deles, já que esta estava arrumada para o lado esquerdo – tinhas olhos
brilhantes e negros e uma pele clara que não parecia natural mais tinha vontade
de tocá-la. Vestia-se somente de preto o que dava certo efeito lindinho em sua
pele branca.
Seu cheiro chegou a mim
assim que estava de pé de frente a seu corpo magro e musculoso, tinha o cheiro
da floresta, era doce sensível e ao mesmo tempo selvagem. E por incrível que
pareça eu tinha a impressão de que já o tinha visto em algum lugar.
-Desculpe-me, não vi
você passar – sua voz era doce, e parecia que ele realmente queria se
desculpar, e eu ate desculparia se não reconhecesse aquela voz.
-Você é Every? – ele
assentiu, refiz a pergunta em descrença desta vez me perguntando por que não o
deixei ficar ontem – Você. É. Every?
-Sim, por que deixei
alguma duvida na primeira pergunta?
-Nenhuma! É que... Só
queria ter certeza – certeza de que seria ele o gato a me visitar ontem.
Ele riu, podia apostar
que estava fazendo aquela cara de “eu quero você garoto e vou conseguir”.
Tentei lembrar-me do que estava fazendo.
-Então, eu tenho que ir
– passei por este mesmo não querendo seguir.
-Certo, mas se esta
tentando escapar... – de jeito nenhum querido – Estou indo para o mesmo prédio.
Comemorei por dentro, já
era uma vitória.
-Então me acompanhe –
convidei.
Ele assentiu e
colocou-se ao meu lado, o ritmo de nossas passadas eram iguais e diminuíam
gradativamente quando mais nos aproximávamos do prédio.
-Você estuda aqui faz
muito tempo?
-Na verdade não, resolvi
fazer parte disso hoje.
Pensei por um momento no
que ele estava falando, e então eu entendi.
-Você esta indo estudar
hoje?
-Bom, o colégio é para
quem quiser aprender nesta época do ano, e tenho motivos especiais para ir para
lá.
-E qual seria seu motivo
especial?
-Talvez certa garota que
vi ontem em meio ao banho, alias lindo corpo.
-Certo aquilo foi um
acidente e você vai esquecer – ameacei brincando, olha só eu nem o conhecia
mais estava numa intimidade confortável a qual não estava dando a mínima.
-Não se preocupe não vou
contar a ninguém.
-Então podemos começar
este verão sendo amigos? – o convidei a minha proposta.
-Depende, eu não te
conheço muito bem. E pelo seu gosto por peças intimas posso dizer que você tem
poucos amigos verdadeiros, estariam os outros se afastando por você ser uma
péssima amiga?
-Não! – ri com a idéia
de alguém tirar toda essa informação das minhas peças intimas, e estava
esperando que ele não fosse um daqueles garotos malucos por sexo que querem
ficar com qualquer uma – Sou ótima amiga, só prefiro os poucos e verdadeiros
invés dos muitos e falsos.
-Que bom! Por que eu
também prefiro assim, então posso dizer que podemos ser amigos – ele curvou-se
convidando-me a entrar no prédio, mal notei quando tínhamos chegado.
-Obrigada! – disse
passando por este.
-Se quiser saber onde
fica tudo por aqui, é só me procurar.
Assenti e segui corredor
acima, queria encontrar a biblioteca e esperava que não me perdesse, agora sim
eu tinha entendido por que só havia dois colégios na cidade, eles eram enormes.
Depois de quase sete
minutos procurando me rendi, ate ver Every do outro lado do campus em sua calça
jeans, blusa lisa e casaco com capuz caminhando em direção a esta ala.
Levantei-me e comecei a caminhar em direção a ele como se não o tivesse visto.
Esbarramos – ou melhor,
eu esbarrei nele – e ele me segurou para certificar-se de que eu não cairia
desta vez.
-Oi! Eu nem te vi, me
desculpe – disse como quem não quer nada.
-Esta tudo bem! Estava
indo ate a biblioteca.
Fingi estar sem graça e
comentei:
-É... Eu estava tentando
ir para lá, mas me perdi e não consigo achar o caminho.
-Eu também não sei onde
é, mas podemos procurar juntos.
-Não vou estar te
atrasando?
-Claro que não, ao menos
se nos perdermos não estaremos sozinhos.
-Mas estaremos perdidos
do mesmo jeito.
-Às vezes é uma coisa
boa – ele me encarou e depois voltou a encarar o caminho – Vamos?
-Ah sim!
Começamos a caminhar,
vim um pouco atrás para poder observar. Que homem como esse teria tudo isso e
ainda um traseiro grande e lindo, tão lindo que deu vontade de apertar, mas me
contive.
-Acho que é aqui.
Adentramos a sala e
percebemos que a biblioteca era incrivelmente grande assim como as salas de
aulas deviam ser. Adentramos o local e então nos separamos, ele foi à seção de
livros de artes e eu segui ate os livros locais, algo que me informasse mais
desta cidade como, por exemplo, gatinhos fora do normal com um traseiro lindo.
Ele riu lendo um dos
livros, ate seu riso era encantador.
Pulei de susto quando
meu celular tocou, todos que estavam presente na biblioteca reclamaram do
barulho. Atendi o telefone e me enterrei em uma das prateleiras.
-Joana isso não é hora
de me ligar – reclamei baixo.
-E que horas são
exatamente, amiga?
-Desculpe, é que estou
em uma biblioteca.
Ela gritou do outro lado
do telefone.
-Numa biblioteca? –
perguntou esta descrente – Você. Esta. De. Férias. Coloca isso na sua cabeça, e
me explica por que esta numa biblioteca?
-Depois eu te explico,
não tenho tempo agora.
-Agora não tem nem mais
tempo. O que esta acontecendo com você amiga? Esta doente? Sua avó é muito
malvada? Por que você não retorna minhas mensagens?
Ontem Joana tinha
mandado-me pelo menos vinte mensagens querendo saber como eu estava.
-Estou sem credito, eu
já disse que nos falamos mais tarde. Tchau! – desliguei antes que ela gritasse
algo mais.
Peguei um livro da
historia das bruxas na cidade e sentei-me em uma mesa. A única desocupada por
sinal, mal coloquei os olhos no livro e alguém me perguntou:
-Posso me sentar aqui? –
Every mostrou-me a cadeira de frente a minha e depois olhou em volta para
mostrar que não havia mais lugares.
-Claro, afinal a
biblioteca é publica não é?
-Antes de começar a ler
e eu começar a te irritar com minhas perguntas, posso te fazer uma única
pergunta? – assenti – Qual o interesse nos livros locais?
-Nenhum, só queria saber
um pouco mais sobre a cidade e suas chatices – acho que estava um pouco nervosa
e antes que ele notasse enterrei a cara no livro.
Antes de começar minha
leitura observei-o lendo, sua franja comprida e densa caia-lhe nos olhos e ele
fazia um movimento lento e gracioso para tirá-las dali. Parecia atencioso ao
que fazia e nem um pouco interessado no assunto do livro, parecia ate que não
estava ali.
Voltei-me a minha
leitura esquecendo de tudo a minha volta. Consegui separar algumas coisas
interessantes na leitura, coisas que escrevi em um caderno que tinha pegado no
balcão da biblioteca.
Curiosidades sobre a
cidade: ela é o ponto alto de feitiços, por isso quase sempre muitas bruxas
viam viver aqui para que seus feitiços fossem mais fortes e duradouros.
Curiosidade dois: as
bruxas eram queimadas e enterradas por praticar feitiços que inibiam as leis. E
quase sempre por ser feitiços muito cruéis contra inocentes.
Curiosidade três: o
livro tinha sido escrito muito tempo atrás e então reescrito no século vinte, o
autor acrescentou assuntos de suas autorias e afirma dizer que ainda nesta
época havia bruxas nesta cidade, e continua a afirmar que futuramente elas
ainda existiram.
Curiosidade quatro:
Every fica incrivelmente lindo quando escreve alguma coisa, ou quando se mexe,
ou quando respira... Certo, estava fora do meu foco.
Voltei ao livro e tentei
ficar nele por um tempo maior que o primeiro, apagando todas as coisas da minha
mente e concentrando-me somente na leitura.
Mal vi o tempo passar
quando fiquei concentrada, e não vi o lindinho se retirar também. O sinal do
colégio soou pelos corredores e então tínhamos de nos retirar, não podíamos nem
se quer levar livros conosco por que os professores não tinham permitido esta
função, então eu teria de voltar à biblioteca amanha e continuar minha leitura,
ou eu poderia simplesmente...
-Se eu fosse você não
pensava nisso – Every apontou o livro em minhas mãos – Há seguranças que
trabalham no verão para que esse tipo de coisa não aconteça.
-Que tipo de coisa? –
fingi não saber do que ele esta falando.
-Que um pertence do
colégio saia dessa área sem ser período de aula.
-Como sabia no que eu
estava pensando?
-Acho que esta bem
obvio, já que esperou todos saírem com o livro fechado e ainda não o tinha
colocado na prateleira.
-Tudo bem, me convenceu.
Mas eu realmente preciso ler este livro.
Ele olhou em volta com
certa duvida.
-Certo, mas você pode
voltar à noite quando ninguém estiver aqui. Ou ate mesmo a tarde.
-Ficar sozinha nesse
colégio... – olhei a biblioteca e as filas e mais filas de prateleiras – Acho
que não.
-Eu posso te acompanhar,
mas se nos pegarem digo que a idéia foi sua – ele sorriu.
Pensei duas vezes antes
de aceitar e assentir. Estava mesmo disposta a ficar sozinha com alguém que não
conheço, num prédio enorme e assustador por causa de um livro que eu poderia
simplesmente tentar levar agora? Sim, estava disposta.
-Combinado então, nos
vemos às duas da tarde.
-Então ate as duas.
Nos retiramos do prédio
assim que um segurança veio nos buscar e disse que biblioteca não era lugar
para namorar. Despedimo-nos na rua e segui de volta para a casa da minha avó,
Hole ficou muito animado em me ver e vovó pediu para que eu a ajudasse a fazer
bolinhos, quase sempre – quando estava em casa – ela ia para a cozinha.
-Para que esses
bolinhos?
-Para levar a casa de
doações.
-A senhora vai doar
bolinhos? – comecei a rir – Não tinha algo melhor?
-Ora querida, cada um
doa o que quer – ela sorriu empurrando-me com o cotovelo.
-Pois é! Vovó eu vou
sair à tarde, tudo bem não é?
-Depende muito de que
tipo de saída se trata.
-Com um garoto.
-Já arranjou um namorado
querida?
-Não, claro que não. Ele
é só um amigo.
-Acho que não por muito
tempo.
-Pare com isso vovó, sua
época de namorar já passou parece ate minha mãe.
-Querida quem disse que
minha época de namorar já passou? Ainda estou jovem, posso sair com quem eu
quiser quando eu quiser.
-Isso é o que vamos ver
– a desafiei.
-A primeira que trouxer
um rapaz para jantar vence – ela aceitou meu desafio.
-Vai perder velhinha.
-É o que você acha
garotinha.
Pegamos a glacê e
atiramos uma na outra, Hole estava adorando aquela chuva de doçura, mas meu
cabelo estava horrível e no fim tive de tomar um banho para tirar todo aquele
açúcar do meu corpo, mal tive tempo de almoçar quando alguém bateu a porta.
Corri ate lá e abri.
-Oi! – Every me saldou.
-Oi, só um minuto.
Afastei-me e deixei a
porta aberta, mas ele não entrou. Puxei seu braço e assim que estava dentro o
soltei. Subi ate o quarto e peguei minha mochila, Hole parou na porta e
olhou-me como se dissesse que eu não iria para lugar nenhum sem ele, e quando
resolvi testar a teoria ele mordeu minha calça e ficou grudado nela ate quando
cheguei à porta e ele animou-se indo ate Every.
-Agora esta apelando? –
perguntei a Hole.
-Ele é lindo! – Every
comentou – Olá garotão! Como vai tudo?
Hole latiu e depois
olhou para mim. Peguei a coleira dele e coloquei em seu pescoço, e então
finalmente pudemos sair de casa e seguir ate o prédio.
-Vamos dar a volta
seguindo pela floresta, assim ninguém vai nos ver entrar – ele dizia enquanto
brincava com Hole.
-Certo, mas não confio
naquela floresta.
Ele riu.
-Não confia? É só uma
floresta.
-Para você talvez, mas
para mim parece à casa dos terrores onde moram todas as assombrações.
-Por que diz isso? – ele
pareceu um pouco triste agora.
-Bom, era só uma brincadeira
mais acho que ela foi longe demais, desculpe.
-Ok! Suas brincadeiras
têm que parar.
-Vamos logo, não quero
perder nem mais um segundo aqui.
Sai de casa e dei a
volta, adentramos a floresta e ela – como eu disse antes – vista de dia não era
nem um pouco assustadora, na verdade era encantadora. Parecia aquelas florestas
de filmes onde viviam fadas ou amazonas, tinha capins densos por toda a área
onde meus olhos alcançavam, as arvores eram incrivelmente grandes e novas – na
verdade parecia que aquela floresta tinha sido plantada a mais ou menos um ano,
exceto pelo tamanho das arvores – a pouca luz que adentrava entre as folhas das
arvores pareciam refletir a luz para muitos lugares fazendo a floresta ficar
completamente iluminada, mas dava para ver que só pouca luz entrava mesmo.
-Nossa é linda!
-Viu, a palavra que
disse não foi mal-assombrada.
-Você é sempre positivo?
-Houve uma época que
não.
Já tínhamos dado a volta
na rua e não notei quando estávamos no fundo do colégio, iria perguntar como
iríamos entrar, mas ele passou na frente e curvou-se sobre a porta olhando para
os dois lados. E logo depois a porta estava aberta.
-Como fez isso?
Ele me mostrou um
pequeno clipe. Certo isso explicava muita coisa, adentramos o colégio que
estava suficientemente escuro para que não enxergue um palmo a minha frente,
algo tocou-me e quase gritei mais engoli todo o pânico quando percebi que era a
mão de Every guiando-me pela escuridão.
Seu toque era estranho,
tinha um conforto delicado a qual você se apegava rápido, e quando alcançamos à
porta da biblioteca e ele ligou a luz esse apego sumiu no mesmo instante em que
ele soltou minha mão.
-Bom, aqui estamos,
então pegue logo o livro e vamos sair daqui.
-Certo!
Apressei-me em caminhar
ate a prateleira e comecei a procurar pelo livro, mas não o encontrei.
-Temos um problema.
-Qual? – mal vi quando
ele se aproximou de mim.
-Não encontro o livro,
ele estava aqui ontem, mas...
-Deveria estar ai,
ninguém pode retirar os livros do colégio, esta é a regra.
-E se ainda estiver no colégio?
-Serio? Você foi a
ultima a tocar no livro, e depois que todos os alunos se retiram do colégio ele
é fechado e os guardas vão para casa.
-Pode ser que alguém
tenha entrado depois assim como nós.
-Não, você não esta
entendendo, essa cidade não é normal e eu devia ter lhe dito isso antes. Se o
livro sumiu é por que a alguém que não quer que você o leia.
-Tipo quem?
-Bruxas!
Não estava acreditando
que ele estava me dizendo isso.
-Não acredita realmente
em bruxas não é?
-Eu tenho muitas coisas
em que acreditar.
-Como assim?
-Nada, acho que já falei
demais.
-Não agora você vai me
dizer.
Ele parou um pouco e
respirou fundo, achei que ele estaria pronto para contar o que estava
acontecendo, mas ele apenas disse:
-Bruxas existem, e na
verdade nada na sua vida vai ser normal de hoje em diante.
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