Tudo estava acabado,
estava a caminho da casa da minha avó e passaria um tempo por lá, a única coisa
ruim nisso tudo, ou melhor, as coisas ruins nisso tudo eram: ela morava num
finzinho de mundo do qual eu nunca ouvi falar, o tempo por lá era instável
mudava a qualquer momento, a ultima vez que tinha visto minha avó havia sido no
meu aniversario de seis anos e por ultimo e não menos importante tinha quase
certeza de que teria de escrever cartas para me comunicar com meus amigos, por
que nem havíamos chegado e meu celular já não tinha mais sinal,
O carro parou e vi meu
fim chegar logo quando meu pai abriu a porta e colocou uma sombrinha sobre
minha cabeça, guiando-me ate a varanda. Ele certificou-se de levar a sombrinha
para que eu não pudesse segui-lo de volta para o carro – afinal ele sabia que
eu não sairia na chuva logo depois de ter cuidado do meu cabelo – ele trouxe
minhas malas e se despediu.
Observei o carro se
afastar na estrada junto com a minha vida, virei-me para a porta e bati.
Esperei ali com a chuva respingando sobre mim, e observei que minhas malas
estavam encharcadas, obrigado papai!
Vovó abriu a porta e
convidou-me a entrar.
-Olá querida!
-Oi vovó!
-Seu quarto é lá em
cima, quer ajuda com as malas?
-Não! Esta tudo bem.
Arrastei minhas malas
casa acima enquanto observava a decoração, casa antiga e cheia de quadros –
típico de gente idosa – móveis antigos assim como a pintura que já desbotava em
alguns lugares. A casa era tão antiga que tinha lustres invés de lâmpadas
normais, quando meu salto encontrava a madeira antiga das escadas elas rangiam
em alguns lugares, parei de notar tudo quando encontrei um corredor enorme e
escuro e logo no final dele a porta de onde devia ser meu quarto.
Engoli seco antes de
prosseguir, as rodas da minha mala faziam um som grosseiro no piso, e tinha
quase certeza que estava sujando a casa de lama mais não aguentaria carregá-las
ate ali em cima.
Respirei um pouco, o ar
poluído e cheio de poeira atingiu meu nariz em cheio.
Abri a porta e já não
gostei muito do jeito que ela se moveu e o som que ela fez ao ser aberta, mas
tinha certeza que era somente um parafuso fora do lugar.
Pensei que encontraria
um quarto arruinado, empoeirado e com móveis velhos e quebrados cobertos por panos
brancos, mas meu quarto estava exatamente como me lembrava desde que tinha seis
anos.
Depositei minhas malas
no chão e olhei em volta, as paredes tinham um rosa claro e borboletas de todas
as cores desenhadas ao longo destas, o piso era de madeira e tinha um grande e
felpudo tapete do lado da cama de cabeceira grande.
De frente a cama havia
uma peça com um lindo espelho, e uma guarda-roupa antigo ao lado, e um pouco
mais adiante uma grande janela mais ou menos do meu tamanho que dava para ver
boa parte da cidade, não tinha muitas coisas para ver.
-Eloá desça aqui, quero
te dar um presente de boas vindas – vovó me chamou da escada.
Desci devagar ainda
observando tudo em volta.
Ela já estava na sala,
sentada em um dos sofás do conjunto de frente a lareira onde a primeira coisa
que chamava a atenção era um quadro enorme de uma garota de cabelos negros e
cacheados que caiam-lhe nas cochas, de olhos verdes claros e fundos e a pele
mais clara que a da branca de neve, isso por que ela estava maquiada – não souberam
maquiar-me – e essa era eu com quinze anos.
No meu aniversario
semana passada tínhamos tirado essa foto, e como era uma festa fantasia me
arrumaram de branca de neve, tínhamos feito uma copia e enviado este quadro de
presente para minha avó já que ela fazia aniversario um dia depois do meu.
-Por que deixa isso
aqui? – perguntei observando minha maquiagem ridícula.
-Oh! Venha aqui – ela
disse rindo.
Aproximei-me do sofá e
sentei-me ao seu lado. Ela lançou as mãos para trás do sofá e retirou algo de lá,
notei depois que era um cachorro, para ser mais exata um Rusky Siberiano branco
e peludo ainda pequeno.
Sorri ao ver a coisinha linda tentando me
alcançar para afogar sua língua em meu rosto. Estendi as mãos e peguei-o das
mãos de minha avó, ele pulava animado tentando alcançar meu rosto.
-É lindo vovó, obrigado!
-Não tem problema, é
para te fazer companhia.
-Por quê? A senhora não
vai estar aqui?
-Vou claro, mas é que
costumo sair demais nesta época do ano e talvez você tenha que passar alguns
dias sozinha querida, tudo bem?
-Sem problema – disse
observando o cachorrinho.
-Que bom! O que quer
fazer?
-Bom... Eu pensei em
tomar um banho e dormir cedo...
-Oh claro! Que besteira
da minha parte, você deve estar cansada. Pode ir querida não vou te atrapalhar.
Assenti e subi as
escadas junto ao meu companheiro. A viagem realmente tinha me deixado muito
cansada, vasculhei minha mala e peguei minha toalha e meu pijama, não achei
banheiro no andar de cima então desci e perguntei a minha avó.
-Querida aqui não tem banheiro,
você tem que tomar banho lá fora.
-Lá fora? – entrei em
pânico.
-Eu lhe mostro querida.
Não que eu quisesse mais
a acompanhei ate o lado de fora, no quintal. Uma floresta enorme e escura
estendia-se bem próximo a casa. Vovó mostrou-me um cercado de madeira que fazia
parecer que aquilo era algum tipo de banheiro publico, exceto que este não
tinha teto.
-E... E o chuveiro? –
temi perguntar.
Ela abriu a pequena
porta de madeira e mostrou-me um balde com água dentro. Não estava acreditando
que este era apenas um dos primeiros dias do meu verão inteiro e talvez – se eu
não me comportasse, ate parece que não sou comportada – uma vida inteira.
Vovó virou-se e ia se
retirando quando corri e a alcancei agarrando seu braço.
-Vai me deixar aqui
sozinha?
-O que há de errado
querida?
-Se não notou, esta
escuro, aquilo não parece nem de longe um banheiro e tem aquela... – olhei para
a floresta como se ela pudesse me ouvir – Aquela floresta.
-Sei que esta acostumada
do bom e do melhor, mas é tudo o que tenho então vá em frente e tome seu banho
não há nada de mal.
Ela livrou-se das minhas
mãos e entrou em casa.
Apressei-me em voltar
para o cercado de madeira, como se isso pudesse me proteger de algo.
Não tive nem coragem de
me despir e para piorar a água era gelada, juntando com o vento frio da noite
estava melhor ainda.
Adentrei a casa e
vesti-me no meu quarto. Ia para cama imediatamente mais meu celular avisou-me
que tinha chegado uma mensagem, peguei-o e li a mensagem. Era da Joana, queria
saber se eu estava bem.
Logo depois eu notei uma
coisa que não tinha reparado antes. Meu celular tinha sinal, comemorei gritando
e minha avó me alertou:
-Eloá faça menos
barulhos, os vizinhos dormem cedo por aqui.
-Desculpe.
Comemorei baixinho,
escrevi uma mensagem em resposta e enviei, mas não foi enviada, procurei o
motivo e notei que meus créditos tinham acabado. Que ótimo!
Joguei o celular sobre a
mesinha e segui ate a cama, deitei enrolando-me no cobertor, a noite ali era
bastante fria.
A pequena bola de pelo
se aproximou da cama e pulou, ele caiu no mesmo instante. Peguei-o e coloquei-o
ao meu lado.
-Você é muito lindinho.
O que acha de eu te chamar de Hole?
Ele latiu e afundou a
cabeça em meu travesseiro. Considerei isso como um sim, e como estava cansada
também resolvi dormir.
Pela manha segui ate a
cozinha e encontrei na geladeira um bilhete:
Tive de sair para
resolver umas coisas, a ração esta em cima da geladeira. Beijos vovó.
Meu primeiro dia
sozinha, que maravilha. Amassei o papel e joguei-o na lata de lixo, não por má
educação, mas por que ele já não tinha utilidade nenhuma na geladeira.
Peguei a ração e
coloquei em um pratinho ao lado do vaso com água.
-Boa sorte!
Hole começou a se
deliciar em seus petiscos, e eu comecei a procurar o que comer. Alguns cereais
velhos, uma pizza congelada e torrada com pasta de amendoim, foram as únicas
coisas que achei que valiam a pena serem degustadas.
Depois do meu café da manha subi novamente
para o quarto e me troquei, estava na hora de dar uma boa olhada na cidade e de
preferência comprar uma coleira para meu fiel escudeiro.
Ele passou a minha
frente quando abri a porta, seguimos lado a lado para uma loja para animais.
Adentrei o lugar e observei tudo em volta, tinha muitas coisas divertidas ali e
Hole insistiu para que eu levasse uma coleira azul marinho com um osso de prata
pendurado – por sorte ainda tinha o pouco que restou da minha ultima mesada.
Aproximei-me da bancada
e toquei a campainha, um garoto de sardas e óculos se aproximou como quem não
queria estar ali e perguntou-me o que eu desejava. Ergui a coleira para ele
ver.
-São cinco dólares – ele
disse.
-Serio? – ele assentiu,
olhei para Hole e ele rodopiou uma vez – Certo, eu levo esta.
Paguei ao moço e me
retirei do estabelecimento. Na rua abaixei-me para estar próxima a Hole e
pendurei sua coleira em seu pescoço, ele ficou bastante animado.
-Então aonde quer ir
agora?
Ele correu para a praça
que tinha ali perto, claro era meio obvio que ele iria para lá. O segui mais
caminhei lentamente para poder apreciar um pouco mais daquela cidade estranha.
Tinha apenas dois colégios que ficavam no final do quarteirão,havia uma loja de roupas
incrível e ao lado um shopping um tanto pequeno, e fora isso o resto todo eram
casas enfileiradas em uma rua pequena e perfeita.
Assustei-me quando Hole
pulou em meus joelhos – por que era onde ele alcançava – abaixei-me e o peguei.
-Esta na hora de voltar
para casa não acha?
Ele latiu duas vezes e
contorceu-se para que eu o soltasse, coloquei-o no chão e ele correu para longe
de mim. Sentei-me em um dos bancos de pedra esperando que este voltasse,
reparei em um grupo de adolescentes que seguiam ate o fim do quarteirão,
perguntei-me se eles estariam estudando em pleno verão.
Eu quem não iria ate lá
perguntar.
Levantei-me e peguei
Hole seguindo de volta para casa, já tinha visto demais por hoje. Ao voltar
para casa reparei que a floresta não parecia nada assustadora ao dia, na
verdade ela era linda e grande.
E na verdade tinha
vontade de conhecer um pouco dela, e ate iria se minha avó não tivesse chegado
e me convidado a ajudá-la com as compras e logo depois que as depositamos na
cozinha ela perguntou se eu não gostaria de ajudá-la a fazer o almoço.
-Claro! – disse um pouco
desanimada, mas ao menos teríamos um tempo para conversar – O que vamos fazer?
-O que acha de massa
italiana?
-Acho que vou comer
bastante no almoço – rimos.
Ela retirou as coisas
que precisaríamos do armário e pos em cima da mesa. Com isso começamos a
trabalhar em nosso almoço, acho que assim que terminássemos já poderíamos comer,
já seria hora de almoçar mesmo.
-Vovó?
-Diga querida!
-Agora a pouco vi um
grupo de adolescentes indo ate o colégio, eles estão estudando.
-Ah sim! É o grupo de
apoio aos estudantes, eles gostam de aprimorar seus conhecimentos por isso usam
o colégio como se fosse um acampamento de verão.
-Por qual motivo alguém
iria querer estudar no verão?
-Para passar a frente
dos que brincam o verão inteiro e não se preparam.
Parei um pouco para
pensar olhando pela janela, dava para ver o prédio dali.
-Acha que eles estariam
aceitando novatos?
-Você pode tentar,
sempre é bem vinda uma alma por sede de conhecimento.
-Nossa vovó! Você tem um
jeito estranho de falar as coisas.
-É coisa de gente velha
querida – ela riu – Vamos prepare o molho ou não vamos comer hoje.
Mudei minha posição e
segui ate os ingredientes para o molho vermelho de nosso espaguete nada
italiano. E então minutos depois estava pronto para ser devorado, coloquei a
ração para Hole e servi-me de uma boa quantia de espaguete.
Após o almoço vovó se
retirou para algum tipo de convenção de idosos, e eu segui para fora de casa
novamente, para ser mais exata estava indo ate o final do quarteirão.
Adentrei o prédio que
parecia um pouco assustador e vazio. Mas logo notei que havia adolescentes por
todo o lugar, parei de olhá-los para admirar a estrutura do lugar. Parecia
algum tipo de arena, o que devia ser a arquibancada para assistir ao espetáculo
eram as salas, e o campo invés de areia tinha um verde muito bonito, arvores em
todo campo e mesas abaixo destas.
Continuei andando ate
achar o que seria a diretoria, vários alunos discutiam algo mais não dava para
ouvir ate por que estava olhando pelo vidro da porta.
Bati na porta e esperei
ser atendida.
-O que deseja? – um
rapaz alto, de cabelos cacheados e negros perguntou-me a porta.
-Eu soube que vocês
estudam no verão, queria saber se poderia participar disto?
-Promete se dedicar aos
estudos como se estivesse estudando mesmo?
-E não estão?
-Na verdade não,
deixe-me dizer o que acontece aqui. Depois do termino das aulas o diretor
entrega a nós, os alunos que estudam no verão, a chave do colégio para que
possamos estudar melhor para o próximo ano, não é como se isso fosse oficial,
mas ganhamos um credito com isso.
-Certo, entendi! Mas...
E ai, posso ou não?
-Não sou eu quem decide
isso. Entre!
Passei pela porta e ele
ia fechar, mas coloquei o pé à frente. Hole adentrou trotando.
-Desculpe, é que ele não
fica sozinho.
-Tudo bem! Galera esta
é...
-Eloá!
-Eloá, ela quer fazer
parte deste clube, se me entendem.
-Esta disposta a fazer
parte disto, tem certeza que não quer passar o seu verão em casa? –
perguntou-me o diretor de dezesseis anos com certeza.
-Sim, eu não tenho muito
que fazer em casa.
-Então seja bem vinda.
-Não preciso fazer nada,
nenhuma matricula ou coisa parecida?
-Não! Como já devem
tê-la dito isso é como um clube social, não é oficial sabe?
Assenti.
-Então quando posso
começar?
-Hã... Amanha. Um deles
deve passar-lhe o horário, não se preocupe não vamos ocupar todo o seu dia, só
podemos ficar aqui no horário da manha.
-Certo!
Ia me retirando quando
um deles disse.
-Ah só mais uma coisa, o
cachorro não pode mais vir.
Assenti novamente e me
retirei do local, ainda estava impressionada com a estrutura deste lugar.
Chegando em casa vovó
ainda não estava, resolvi ver se ela tinha uns livros só para passar o tempo,
encontrei uma biblioteca pequena. Tinha livros interessantes de títulos de
línguas estranhas mais que eu conseguia entender muito bem.
Peguei um deles e abri
em qualquer pagina para ver se eu realmente estava entendendo.
-Dominus – li uma
palavra que não entendi.
Não sei muito bem o que
aconteceu depois, mas o livro fugiu de minha mão direto para o chão. Olhei em
volta e então me abaixei para pegar o livro, a qual Hole tinha começado a
latir, quando me levantei notei que não era para o livro que ele latia e sim
para os livros.
Todos os livros da
biblioteca estavam flutuando, não era do tipo ilusão eles estavam fora de suas
prateleiras flutuando.
De primeira gritei por
não entender o que estava acontecendo, e então peguei o livro e observei a
capa, onde havia escrito: livro de feitiços. Feitiço? Esta de brincadeira
comigo?
Depois de o susto
passar, mas ainda estar apavorada pelo o que estava acontecendo comecei a
tentar alcançar os livros flutuando em minha frente, mas eles fugiam assim como
o primeiro. Que droga estava acontecendo aqui?
Peguei o livro do chão e
pajeei as folhas ate encontrar a palavra que num momento desse eu não me
lembrava qual era, mas tinha certeza que lembraria se visse ela.
-Dominus – disse.
Os livros pararam por um
tempo e então parecia que a gravidade finalmente tinha voltado e eles foram ao
chão. Certo, o que tinha acontecido aqui?
Estava maluca, estava
sonhando, ou melhor, alguém queria me pregar uma peça. Sentei-me em meio à
pilha de livros e Hole destruía um deles.
-Me dê isso – ele correu
quando fui tomar de sua mão.
Comecei a colocá-los no
lugar. Tinha uma teoria um tanto ridícula, mas iria tentar, peguei o livro
novamente e folheei as paginas procurando por algo que me ajudasse e esperava
que funcionasse, ou melhor, esperava que não funcionasse por que tudo isso não
deveria estar acontecendo.
Encontrei, sussurrei o
que devia ser um feitiço. Os livros voltaram para seus lugares imediatamente.
Soltei o livro no chão novamente, certo.
Eu sempre comprei livros
de feitiços como brincadeira, minhas amigas e eu sempre brincávamos de conjurar
feitiços como bruxas, mas isso foi de longe o mais perto disso. Eu não poderia
ter feito isso, esses livros tinham algum truque fora do normal escondido.
Segui para meu quarto e
peguei meu computador na mala, pesquisei teorias sobre isto, só o que aparecia eram
bruxas, feiticeiras e varias outras coisas que nem sabia que existia. O que eu
estava fazendo? Isso era loucura!
Deixei o computador de
lado e resolvi esquecer esta historia, seja lá o que tivesse acontecido, não
aconteceria novamente.
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