sábado, 5 de maio de 2012

Um estranho em minha vida

                                                          Mudança



Tudo estava acabado, estava a caminho da casa da minha avó e passaria um tempo por lá, a única coisa ruim nisso tudo, ou melhor, as coisas ruins nisso tudo eram: ela morava num finzinho de mundo do qual eu nunca ouvi falar, o tempo por lá era instável mudava a qualquer momento, a ultima vez que tinha visto minha avó havia sido no meu aniversario de seis anos e por ultimo e não menos importante tinha quase certeza de que teria de escrever cartas para me comunicar com meus amigos, por que nem havíamos chegado e meu celular já não tinha mais sinal,
O carro parou e vi meu fim chegar logo quando meu pai abriu a porta e colocou uma sombrinha sobre minha cabeça, guiando-me ate a varanda. Ele certificou-se de levar a sombrinha para que eu não pudesse segui-lo de volta para o carro – afinal ele sabia que eu não sairia na chuva logo depois de ter cuidado do meu cabelo – ele trouxe minhas malas e se despediu.
Observei o carro se afastar na estrada junto com a minha vida, virei-me para a porta e bati. Esperei ali com a chuva respingando sobre mim, e observei que minhas malas estavam encharcadas, obrigado papai!
Vovó abriu a porta e convidou-me a entrar.
-Olá querida!
-Oi vovó!
-Seu quarto é lá em cima, quer ajuda com as malas?
-Não! Esta tudo bem.
Arrastei minhas malas casa acima enquanto observava a decoração, casa antiga e cheia de quadros – típico de gente idosa – móveis antigos assim como a pintura que já desbotava em alguns lugares. A casa era tão antiga que tinha lustres invés de lâmpadas normais, quando meu salto encontrava a madeira antiga das escadas elas rangiam em alguns lugares, parei de notar tudo quando encontrei um corredor enorme e escuro e logo no final dele a porta de onde devia ser meu quarto.
Engoli seco antes de prosseguir, as rodas da minha mala faziam um som grosseiro no piso, e tinha quase certeza que estava sujando a casa de lama mais não aguentaria carregá-las ate ali em cima.
Respirei um pouco, o ar poluído e cheio de poeira atingiu meu nariz em cheio.
Abri a porta e já não gostei muito do jeito que ela se moveu e o som que ela fez ao ser aberta, mas tinha certeza que era somente um parafuso fora do lugar.
Pensei que encontraria um quarto arruinado, empoeirado e com móveis velhos e quebrados cobertos por panos brancos, mas meu quarto estava exatamente como me lembrava desde que tinha seis anos.
Depositei minhas malas no chão e olhei em volta, as paredes tinham um rosa claro e borboletas de todas as cores desenhadas ao longo destas, o piso era de madeira e tinha um grande e felpudo tapete do lado da cama de cabeceira grande.
De frente a cama havia uma peça com um lindo espelho, e uma guarda-roupa antigo ao lado, e um pouco mais adiante uma grande janela mais ou menos do meu tamanho que dava para ver boa parte da cidade, não tinha muitas coisas para ver.
-Eloá desça aqui, quero te dar um presente de boas vindas – vovó me chamou da escada.
Desci devagar ainda observando tudo em volta. 
Ela já estava na sala, sentada em um dos sofás do conjunto de frente a lareira onde a primeira coisa que chamava a atenção era um quadro enorme de uma garota de cabelos negros e cacheados que caiam-lhe nas cochas, de olhos verdes claros e fundos e a pele mais clara que a da branca de neve, isso por que ela estava maquiada – não souberam maquiar-me – e essa era eu com quinze anos.
No meu aniversario semana passada tínhamos tirado essa foto, e como era uma festa fantasia me arrumaram de branca de neve, tínhamos feito uma copia e enviado este quadro de presente para minha avó já que ela fazia aniversario um dia depois do meu.
-Por que deixa isso aqui? – perguntei observando minha maquiagem ridícula.
-Oh! Venha aqui – ela disse rindo.
Aproximei-me do sofá e sentei-me ao seu lado. Ela lançou as mãos para trás do sofá e retirou algo de lá, notei depois que era um cachorro, para ser mais exata um Rusky Siberiano branco e peludo ainda pequeno.
 Sorri ao ver a coisinha linda tentando me alcançar para afogar sua língua em meu rosto. Estendi as mãos e peguei-o das mãos de minha avó, ele pulava animado tentando alcançar meu rosto.
-É lindo vovó, obrigado!
-Não tem problema, é para te fazer companhia.
-Por quê? A senhora não vai estar aqui?
-Vou claro, mas é que costumo sair demais nesta época do ano e talvez você tenha que passar alguns dias sozinha querida, tudo bem?
-Sem problema – disse observando o cachorrinho.
-Que bom! O que quer fazer?
-Bom... Eu pensei em tomar um banho e dormir cedo...
-Oh claro! Que besteira da minha parte, você deve estar cansada. Pode ir querida não vou te atrapalhar.
Assenti e subi as escadas junto ao meu companheiro. A viagem realmente tinha me deixado muito cansada, vasculhei minha mala e peguei minha toalha e meu pijama, não achei banheiro no andar de cima então desci e perguntei a minha avó.
-Querida aqui não tem banheiro, você tem que tomar banho lá fora.
-Lá fora? – entrei em pânico.
-Eu lhe mostro querida.
Não que eu quisesse mais a acompanhei ate o lado de fora, no quintal. Uma floresta enorme e escura estendia-se bem próximo a casa. Vovó mostrou-me um cercado de madeira que fazia parecer que aquilo era algum tipo de banheiro publico, exceto que este não tinha teto.
-E... E o chuveiro? – temi perguntar.
Ela abriu a pequena porta de madeira e mostrou-me um balde com água dentro. Não estava acreditando que este era apenas um dos primeiros dias do meu verão inteiro e talvez – se eu não me comportasse, ate parece que não sou comportada – uma vida inteira.
Vovó virou-se e ia se retirando quando corri e a alcancei agarrando seu braço.
-Vai me deixar aqui sozinha?
-O que há de errado querida?
-Se não notou, esta escuro, aquilo não parece nem de longe um banheiro e tem aquela... – olhei para a floresta como se ela pudesse me ouvir – Aquela floresta.
-Sei que esta acostumada do bom e do melhor, mas é tudo o que tenho então vá em frente e tome seu banho não há nada de mal.
Ela livrou-se das minhas mãos e entrou em casa. 
Apressei-me em voltar para o cercado de madeira, como se isso pudesse me proteger de algo.
Não tive nem coragem de me despir e para piorar a água era gelada, juntando com o vento frio da noite estava melhor ainda.
Adentrei a casa e vesti-me no meu quarto. Ia para cama imediatamente mais meu celular avisou-me que tinha chegado uma mensagem, peguei-o e li a mensagem. Era da Joana, queria saber se eu estava bem.
Logo depois eu notei uma coisa que não tinha reparado antes. Meu celular tinha sinal, comemorei gritando e minha avó me alertou:
-Eloá faça menos barulhos, os vizinhos dormem cedo por aqui.
-Desculpe.
Comemorei baixinho, escrevi uma mensagem em resposta e enviei, mas não foi enviada, procurei o motivo e notei que meus créditos tinham acabado. Que ótimo!
Joguei o celular sobre a mesinha e segui ate a cama, deitei enrolando-me no cobertor, a noite ali era bastante fria.
A pequena bola de pelo se aproximou da cama e pulou, ele caiu no mesmo instante. Peguei-o e coloquei-o ao meu lado.
-Você é muito lindinho. O que acha de eu te chamar de Hole?
Ele latiu e afundou a cabeça em meu travesseiro. Considerei isso como um sim, e como estava cansada também resolvi dormir.

Pela manha segui ate a cozinha e encontrei na geladeira um bilhete:
Tive de sair para resolver umas coisas, a ração esta em cima da geladeira. Beijos vovó.
Meu primeiro dia sozinha, que maravilha. Amassei o papel e joguei-o na lata de lixo, não por má educação, mas por que ele já não tinha utilidade nenhuma na geladeira.
Peguei a ração e coloquei em um pratinho ao lado do vaso com água.
-Boa sorte!
Hole começou a se deliciar em seus petiscos, e eu comecei a procurar o que comer. Alguns cereais velhos, uma pizza congelada e torrada com pasta de amendoim, foram as únicas coisas que achei que valiam a pena serem degustadas.
 Depois do meu café da manha subi novamente para o quarto e me troquei, estava na hora de dar uma boa olhada na cidade e de preferência comprar uma coleira para meu fiel escudeiro.
Ele passou a minha frente quando abri a porta, seguimos lado a lado para uma loja para animais. Adentrei o lugar e observei tudo em volta, tinha muitas coisas divertidas ali e Hole insistiu para que eu levasse uma coleira azul marinho com um osso de prata pendurado – por sorte ainda tinha o pouco que restou da minha ultima mesada.
Aproximei-me da bancada e toquei a campainha, um garoto de sardas e óculos se aproximou como quem não queria estar ali e perguntou-me o que eu desejava. Ergui a coleira para ele ver.
-São cinco dólares – ele disse.
-Serio? – ele assentiu, olhei para Hole e ele rodopiou uma vez – Certo, eu levo esta.
Paguei ao moço e me retirei do estabelecimento. Na rua abaixei-me para estar próxima a Hole e pendurei sua coleira em seu pescoço, ele ficou bastante animado.
-Então aonde quer ir agora?
Ele correu para a praça que tinha ali perto, claro era meio obvio que ele iria para lá. O segui mais caminhei lentamente para poder apreciar um pouco mais daquela cidade estranha. Tinha apenas dois colégios que ficavam no final do quarteirão,havia uma loja de roupas incrível e ao lado um shopping um tanto pequeno, e fora isso o resto todo eram casas enfileiradas em uma rua pequena e perfeita.
Assustei-me quando Hole pulou em meus joelhos – por que era onde ele alcançava – abaixei-me e o peguei.
-Esta na hora de voltar para casa não acha?
Ele latiu duas vezes e contorceu-se para que eu o soltasse, coloquei-o no chão e ele correu para longe de mim. Sentei-me em um dos bancos de pedra esperando que este voltasse, reparei em um grupo de adolescentes que seguiam ate o fim do quarteirão, perguntei-me se eles estariam estudando em pleno verão.
Eu quem não iria ate lá perguntar.
Levantei-me e peguei Hole seguindo de volta para casa, já tinha visto demais por hoje. Ao voltar para casa reparei que a floresta não parecia nada assustadora ao dia, na verdade ela era linda e grande.
E na verdade tinha vontade de conhecer um pouco dela, e ate iria se minha avó não tivesse chegado e me convidado a ajudá-la com as compras e logo depois que as depositamos na cozinha ela perguntou se eu não gostaria de ajudá-la a fazer o almoço.
-Claro! – disse um pouco desanimada, mas ao menos teríamos um tempo para conversar – O que vamos fazer?
-O que acha de massa italiana?
-Acho que vou comer bastante no almoço – rimos.
Ela retirou as coisas que precisaríamos do armário e pos em cima da mesa. Com isso começamos a trabalhar em nosso almoço, acho que assim que terminássemos já poderíamos comer, já seria hora de almoçar mesmo.
-Vovó?
-Diga querida!
-Agora a pouco vi um grupo de adolescentes indo ate o colégio, eles estão estudando.
-Ah sim! É o grupo de apoio aos estudantes, eles gostam de aprimorar seus conhecimentos por isso usam o colégio como se fosse um acampamento de verão.
-Por qual motivo alguém iria querer estudar no verão?
-Para passar a frente dos que brincam o verão inteiro e não se preparam.
Parei um pouco para pensar olhando pela janela, dava para ver o prédio dali.
-Acha que eles estariam aceitando novatos?
-Você pode tentar, sempre é bem vinda uma alma por sede de conhecimento.
-Nossa vovó! Você tem um jeito estranho de falar as coisas.
-É coisa de gente velha querida – ela riu – Vamos prepare o molho ou não vamos comer hoje.
Mudei minha posição e segui ate os ingredientes para o molho vermelho de nosso espaguete nada italiano. E então minutos depois estava pronto para ser devorado, coloquei a ração para Hole e servi-me de uma boa quantia de espaguete.

Após o almoço vovó se retirou para algum tipo de convenção de idosos, e eu segui para fora de casa novamente, para ser mais exata estava indo ate o final do quarteirão.
Adentrei o prédio que parecia um pouco assustador e vazio. Mas logo notei que havia adolescentes por todo o lugar, parei de olhá-los para admirar a estrutura do lugar. Parecia algum tipo de arena, o que devia ser a arquibancada para assistir ao espetáculo eram as salas, e o campo invés de areia tinha um verde muito bonito, arvores em todo campo e mesas abaixo destas.  
Continuei andando ate achar o que seria a diretoria, vários alunos discutiam algo mais não dava para ouvir ate por que estava olhando pelo vidro da porta.
Bati na porta e esperei ser atendida.
-O que deseja? – um rapaz alto, de cabelos cacheados e negros perguntou-me a porta.
-Eu soube que vocês estudam no verão, queria saber se poderia participar disto?
-Promete se dedicar aos estudos como se estivesse estudando mesmo?
-E não estão?
-Na verdade não, deixe-me dizer o que acontece aqui. Depois do termino das aulas o diretor entrega a nós, os alunos que estudam no verão, a chave do colégio para que possamos estudar melhor para o próximo ano, não é como se isso fosse oficial, mas ganhamos um credito com isso.
-Certo, entendi! Mas... E ai, posso ou não?
-Não sou eu quem decide isso. Entre!
Passei pela porta e ele ia fechar, mas coloquei o pé à frente. Hole adentrou trotando.
-Desculpe, é que ele não fica sozinho.
-Tudo bem! Galera esta é...
-Eloá!
-Eloá, ela quer fazer parte deste clube, se me entendem.
-Esta disposta a fazer parte disto, tem certeza que não quer passar o seu verão em casa? – perguntou-me o diretor de dezesseis anos com certeza.
-Sim, eu não tenho muito que fazer em casa.
-Então seja bem vinda.
-Não preciso fazer nada, nenhuma matricula ou coisa parecida?
-Não! Como já devem tê-la dito isso é como um clube social, não é oficial sabe?
Assenti.
-Então quando posso começar?
-Hã... Amanha. Um deles deve passar-lhe o horário, não se preocupe não vamos ocupar todo o seu dia, só podemos ficar aqui no horário da manha.
-Certo!
Ia me retirando quando um deles disse.
-Ah só mais uma coisa, o cachorro não pode mais vir.
Assenti novamente e me retirei do local, ainda estava impressionada com a estrutura deste lugar.
Chegando em casa vovó ainda não estava, resolvi ver se ela tinha uns livros só para passar o tempo, encontrei uma biblioteca pequena. Tinha livros interessantes de títulos de línguas estranhas mais que eu conseguia entender muito bem.
Peguei um deles e abri em qualquer pagina para ver se eu realmente estava entendendo.
-Dominus – li uma palavra que não entendi.
Não sei muito bem o que aconteceu depois, mas o livro fugiu de minha mão direto para o chão. Olhei em volta e então me abaixei para pegar o livro, a qual Hole tinha começado a latir, quando me levantei notei que não era para o livro que ele latia e sim para os livros.
Todos os livros da biblioteca estavam flutuando, não era do tipo ilusão eles estavam fora de suas prateleiras flutuando.
De primeira gritei por não entender o que estava acontecendo, e então peguei o livro e observei a capa, onde havia escrito: livro de feitiços. Feitiço? Esta de brincadeira comigo? 
Depois de o susto passar, mas ainda estar apavorada pelo o que estava acontecendo comecei a tentar alcançar os livros flutuando em minha frente, mas eles fugiam assim como o primeiro. Que droga estava acontecendo aqui?
Peguei o livro do chão e pajeei as folhas ate encontrar a palavra que num momento desse eu não me lembrava qual era, mas tinha certeza que lembraria se visse ela.
-Dominus – disse.
Os livros pararam por um tempo e então parecia que a gravidade finalmente tinha voltado e eles foram ao chão. Certo, o que tinha acontecido aqui?
Estava maluca, estava sonhando, ou melhor, alguém queria me pregar uma peça. Sentei-me em meio à pilha de livros e Hole destruía um deles.
-Me dê isso – ele correu quando fui tomar de sua mão.
Comecei a colocá-los no lugar. Tinha uma teoria um tanto ridícula, mas iria tentar, peguei o livro novamente e folheei as paginas procurando por algo que me ajudasse e esperava que funcionasse, ou melhor, esperava que não funcionasse por que tudo isso não deveria estar acontecendo.
Encontrei, sussurrei o que devia ser um feitiço. Os livros voltaram para seus lugares imediatamente. Soltei o livro no chão novamente, certo.
Eu sempre comprei livros de feitiços como brincadeira, minhas amigas e eu sempre brincávamos de conjurar feitiços como bruxas, mas isso foi de longe o mais perto disso. Eu não poderia ter feito isso, esses livros tinham algum truque fora do normal escondido.
Segui para meu quarto e peguei meu computador na mala, pesquisei teorias sobre isto, só o que aparecia eram bruxas, feiticeiras e varias outras coisas que nem sabia que existia. O que eu estava fazendo? Isso era loucura!
Deixei o computador de lado e resolvi esquecer esta historia, seja lá o que tivesse acontecido, não aconteceria novamente.

                                                                                                             






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