sábado, 5 de maio de 2012

Transparente

                                                               Capitulo 2: Segundo dia



Comecei o dia muito mal em meu quarto. A única roupa que consegui encontrar limpa fora uma regata e uma calça verde. Estava horrível, mas não tinha tempo para mudar de roupa.
Meu pai me deixou no lugar de sempre, ou seja, a cinco metros do estacionamento do colégio.
Bel praticamente seria a única do colégio que falaria comigo em meu segundo dia de colegiado. Ela e seu amigo avatar. Ele não era normal, mas divertido.
Assim que cheguei ao corredor ela me seguiu ate o armário.
-Não vamos começar o dia falando sobre o garoto do corredor vamos? – ela estava com a voz doída como se aquilo causasse dor nela.
-Não – mas eu não havia jurado.
Seguimos para a sala de aula. O primeiro horário seria mais torturante do que qualquer um. Assim que se iniciou eu notei que seria assim.
Mas há quase cinco minutos depois algo interessante aconteceu. O garoto lindo foi mandado para a diretoria – não estava feliz por isso – mas o ponto positivo foi que ao passar de frente a minha sala ele olhou para mim. E ele era tão lindo que quase me derreti. Logo depois a professora fechou a porta e não pude mais fitá-lo.
Fora isso nada mais de interessante aconteceria.
-Bem vamos tentar nos concentrar na sala de aula, tudo bem? – sabia que ela estava falando comigo, mas foi meio impossível.
A aula foi chata, tediosa e a professora mais exigente do que ontem ou do que seria durante toda semana – ao menos ela não era como o professor Claude. Também não sabia que teríamos duas aulas seguidas na semana de linguagens ou inventaria algo para ficar em casa.
-Mia acorde quase esta dormindo – Bel estalou os dedos a frente do meu rosto.
-Desculpe é que...
-Historia geral não é nem um pouco interessante não é?
-É eu estava um pouco longe daqui, devo admitir.
-A diretoria não é tão longe daqui – ela observou – Você prometeu.
-Eu não estava pensando nele realmente. Alem do que nem o conheço.
-Mas o viu e é o suficiente. Muitas de nós ate sonharam com ele, acredite, mas não vale a pena.
-Acabou de dizer que sonhou com ele – ri com a idéia. Ela não parecia ser o tipo de pessoa que sonhava com garotos, talvez com hambúrgueres – Ele já saiu com você? – pensei no assunto.
-Já saiu com todas as garotas que o chamaram.
-Ele é um pegador?
-Não, mas... Você não entenderia.
-Tudo bem, então se eu o chamar...
-Ele vai aceitar, mas quer me ouvir, por favor? – ela implorou – Não é uma boa.
-Tudo bem! – tentei me defender – Mas ainda não entendo o porquê não posso nem falar com ele.
-Pense como se fosse um aviso prévio tudo bem? Só quero te proteger de más pessoas aqui.
Assim que o horário bateu seguimos diretamente para o refeitório. Observei que ele estava no mesmo lugar de ontem, não havia ninguém sentado com ele. Apenas o observei de longe, ele estava procurando por algo e assim que encontrou meus olhos ele acenou.
Estava meio confusa e certifiquei-me que era comigo então acenei de volta discretamente. Ele voltou-se ao seu livro.
Não sabia o motivo por ele ter ido à diretoria e também não sabia se queria conhecer esse motivo. Não devia ter sido nada demais.

Fui para casa. Bel veio comigo, dessa vez eu a convidara. Notei que poderíamos ser melhores amigas uma vez que ao conversarmos quando vínhamos ate minha casa, descobri que tínhamos muitas coisas em comum. Não teria outra mesma.
Pelo resto da tarde não teríamos mais nada a fazer. Estava começando a sentir saudade do refeitório, quer dizer ao menos lá eu podia ter uma boa visão.
-Olá Mia! Que bom que trouxe uma amiga, mas podia me avisar – mamãe sorriu para Bel.
-Desculpa, é que achei que não ligaria.
-Claro que não, mas eu podia me preparar melhor. Quer dizer, veja como esta à cozinha...
Tive medo de olhar, mas mesmo assim o fiz, apenas para descobrir que literalmente minha mãe não era a mulher da casa. Somente meu pai e eu íamos à cozinha, cozinhar de verdade. Minha mãe tentava não fazer tanta bagunça.
Seguimos diretamente para o meu quarto. Ao menos nisso ela era muito boa e tudo estava em perfeitas condições.
-Por que não damos uma volta pela cidade? Você precisa conhecer tudo por aqui – Bel optou – Poderíamos...
-Ir a uma lanchonete, por que suponho que não tenhamos almoço hoje – protestei.
-Isso! Poderíamos fazer compras, sabe como é – ela olhou fundo meu armário de roupas e negou com a cabeça – Você precisa dá uma tapa no seu visual.
-Gosto das roupas que tenho, mas é uma boa idéia para sair de casa.
-Então vamos – ela mexeu no bolso de trás da calça surrada – Tenho sessenta dólares e um chiclete.
-Vamos!
Passei na cozinha antes de sair. Não poderia fazer compras sem ter ao menos dinheiro.
-Aonde vão? – meu pai parecia saber cada passo que eu daria.
-Fazer umas compras.
-Ah! Espere um minuto – ele retirou da carteira duzentos dólares e me entregou – Boas compras!
-Duzentas pratas? Não quer ser meu pai, não?
-Vamos Bel.
Ela me guiou pelas ruas de Nova York. Paramos em uma lojinha muito agradável que vendia sapatos. Havia muitos bonitos e altos, mas nenhum que me incentivasse a gastar duzentos dólares. Mesmo assim Bel adentrou a loja e tive de segui-la. Ela experimentou mais de vinte sapatos e no fim levou apenas um tênis.
-Serio? – perguntei quando saímos da loja.
-Não gostou não foi? – ela já os estava usando – Também gostei mais do preto.
Passamos em varias outras lojas e só o que conseguira me interessar fora um jeans preto com tachinhas nos bolsos. Parecia muito rock, mas eu gostei.
No caminho de volta para casa consegui encontrar uma camiseta que caiu muito bem com a calça. Bom! Fazendo a conta eram duas compras e o resto do dinheiro de Bel fora desperdiçado em chicletes.
-Aonde vai? – Bel quis saber.
-Para casa as compras acabaram.
-Sim, mas ainda há lugares... Clássicos que podemos ir.
Ela segurou minha mão e começou a me puxar. Atravessamos um sinal vermelho com tanta velocidade que nem o som poderia nos atropelar – exagero meu.
Chegamos a uma praça publica. Havia muitas pessoas por ali e podia dizer que aquele lugar era aonde elas iam para fazer o que não tinham direito em casa.
-Por que viemos aqui? – perguntei.
-Só quis te fazer um favor – ela apontou para uma direção e segui-a – Ele sempre esta lá lendo aquele livro, parece meio sinistro.
Observei-o e ele parecia gracioso ate mesmo lendo um livro. Como se soubesse exatamente onde eu estava ele olhou na minha direção e acenou. Escondi-me rapidamente.
-Ele ainda esta olhando? – quis saber. Podia apostar que estava ruborizada.
-Não, mas isso foi estranho.
-O que? – não fazia idéia do que ela estava falando.
-Ele olhar na nossa direção, exatamente na nossa direção – ela quase gritou.
-Ele ainda esta olhando? – perguntei novamente.
Ela levantou-se vagarosamente e olhou através do arbusto. Seu olhar de espantada me sugeria que ele ainda estava olhando para cá, mas ao conferir ele já não estava mais lá.
-Deve ter se sentido incomodado – comentei.
-Sei!
-Vai ver ele sentiu olhos em cima dele, isso acontece o tempo todo – tentei convencê-la. Alem do que ele não olhou diretamente para nós, ele nos procurou.
Segui para casa desta vez. Assim que passei pela porta da minha casa avisei:
-Estou no meu quarto, mãe.
-Tudo bem querida – não acreditava que ela ainda estava tentando limpar a bagunça.
Bel e eu seguimos para o meu quarto. Não notei, mas o trabalho que meu pai fazia era muito rápido. O carpete preto já estava posto em seu lugar.
Ainda estava um pouco nervosa por causa do que acontecera na praça, mas fora só uma coincidência.
-Legal, não tinha notado o quanto é...
-Legal? – ela assentiu – Ainda não esta como eu quero, mas meu pai tem que se estabilizar. Sabe como é?
-Não, nunca precisei me mudar – ela comentou – O que quer fazer antes de amanha? – ela parecia querer esquecer o que havia acontecido ou talvez já se esquecera.
-Não sei há algo para se fazer?
-Podemos... Ou... Não, acredito que nem mesmo as compras deram um jeito nesse tédio – ela deu de ombros. Quando estava prestes a sentar-me de frente ao computador ela se alterou – Podemos passar trotes.
-Não, não é uma coisa que eu faria.
-Qual é? Você tem mesmo que bancar a certinha?
-Liberdade também possui limite.

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